Amar o inimigo: é possível?

Sábado da 1ª Semana da Quaresma

15 de março de 2025

 

Leituras:

Dt 26,16-19

Sl 118(119),1-2.4-5.7-8

Mt 5,43-48


Por Pe. Geraldo Martins

Estamos diante de uma das páginas mais exigentes do evangelho e que deveria nos incomodar profundamente: amar o inimigo e rezar pelos que nos perseguem (cf. Mt 5,44). Em Levítico, a lei dizia apenas “Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Nenhuma referência, portanto, a “amar o inimigo”. 

Eis a novidade da lei que Jesus veio aperfeiçoar. Se já tínhamos dificuldade de ‘amar o próximo como a nós mesmos’, que dirá, então, amar quem é inimigo! Essa é, porém, a condição colocada por Jesus para sermos chamados filhos de Deus (Mt 5,45).

Como entender esse mandamento que nos incomoda e enche de dúvidas? Deveríamos, primeiro, nos perguntar o que entendemos por amar. Se reduzirmos o amor a sentimentos que passam pelo gostar, pela simpatia, pela afinidade, não conseguiremos cumprir o imperativo colocado por Jesus. Se, porém, consideramos amar como praticar o bem em favor do outro, fica bem mais fácil viver o amor ao inimigo.

O papa Francisco diz exatamente isso ao comentar o hino do amor, da carta de São Paulo aos Coríntios, na Exortação Apostólica Amoris Laetitia: “No conjunto do texto, vê-se que Paulo quer insistir que o amor não é apenas um sentimento, mas deve ser entendido no sentido que o verbo amar tem em hebraico: ‘fazer o bem’. Como dizia Santo Inácio de Loyola, ‘o amor deve ser colocado mais nas obras do que nas palavras’” (AL, 94).

Amar, portanto, é agir em favor do outro a partir de necessidade dele. Não implica, necessariamente, afinidade, amizade ou convivência próxima. O exemplo vem do próprio Deus que “faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injusto” (Mt 5,45), ou seja, faz o bem a todos indistintamente. Nisso consiste sua perfeição que devemos almejar – “sejam perfeitos como o Pai celeste de vocês é perfeito” (Mt 5,48). Caminhamos nessa direção?

A violência, em suas múltiplas formas, nasce de corações que jorram vingança, ódio, rancor. Estes sentimentos expulsam o amor de dentro de nós e nos impedem de ver o outro como irmão a quem devemos fazer o bem, mesmo que nos tenha feito o mal. A oração é meio eficaz para apaziguar nossos corações em relação aos que nos perseguem e fazem mal. Ela nos conecta com o amor.

Não podemos brincar de viver o Evangelho. A conversão que buscamos nesse tempo quaresmal passa pelo esforço de “amar os inimigos e rezar pelos que nos perseguem”. O próprio Cristo nos dá o exemplo desse amor, no alto da cruz, quando intercede por seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Ó Cristo, queremos viver tua palavra. Vem em nosso auxílio, converte nosso coração e ensina-nos a amar sem limites os que nos magoam, ofendem, machucam. Amém!

Comentários

  1. Leitura do Livro do Deuteronômio.
    Deus sempre tem a iniciativa da Aliança, e é nela que devemos viver, afastando de nós atitudes farisaicas.
    Acolher a pessoa humana é acolher o próprio Deus. Assim nos ensina a Palavra de Deus. Muitas comunidades em nossos dias se preocupe em acolher bem seus próprios membros e a quem chega para dela participar. É o que nos ensina Jesus: ter atitude diferente para com as pessoas. Atitudes de amor são ⁸sempre com convenientes e convencem muito mais que as palavras. O amor nos faz ser vizinhos de quem está longe e amar nossos próprios vizinhos. Quaresma é o tempo favorável para treinarmos o novo jeito de ser relacionar: o de irmão!

    Jesus desqualifica a perfeição vivida pelos sábios baseada na observância da lei e nos convida a viver o amor do Pai que não conhece exceções.

    Senhor, nos ajude a ficar atentos aos seus sinais que sempre nos orientem o caminho da salvação, a viver a tua palavra e converte o nosso coração. E assim possamos viver intensamente na pratica o amor a Jesus, e os que nos magoam, ofendem e machucam. Amém

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  2. Eis a novidade da lei que Jesus veio aperfeiçoar. Se já tínhamos dificuldade de ‘amar o próximo como a nós mesmos’, que dirá, então, amar quem é inimigo! Essa é, porém, a condição colocada por Jesus para sermos chamados filhos de Deus (Mt 5,45).

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  3. Ó Cristo, queremos viver tua palavra. Vem em nosso auxílio, converte nosso coração e ensina-nos a amar sem limites os que nos magoam, ofendem, machucam. Amém!

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  4. Senhor, ensina-me a amar aqueles e aquelas que não me são simpáticos,pois o verdadeiro amor depende de muito esforço e abertura de coração.

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