O risco de ser rico

Terça-feira da 20ª Semana do Tempo Comum

20 de agosto

São Bernardo – Memória

 

Leituras

Ez 28,1-10

Sl Dt 32

Mt 19,23-30

 

Por Pe. Geraldo Martins

O orgulho, a soberba e a presunção fecham o coração humano à presença e à ação de Deus. Um dos caminhos pelos quais esses sentimentos chegam ao coração das pessoas é o poder político e econômico.  Por que? Porque quem, por sua inteligência e sabedoria, faz riqueza e alcança o poder de decidir, corre sempre o risco de prescindir de Deus e, pior que isso, muitas vezes, tentam se colocar em seu lugar.

É o que ocorreu com o rei de Tiro que, tendo feito fortuna por causa de sua sabedoria, julgava-se deus (cf. Ez 28,2-5). Atribui a si tudo que realizou e não a Deus que o conduziu. Quem age assim, experimenta as consequências de ter abandonado o caminho de Deus: a morte (cf. Ez 28,6-8).

Na esteira do profeta Ezequiel, Jesus chama atenção para o perigo da riqueza exatamente porque quem a possui é fortemente tentado a colocar sua confiança e sua segurança nela e não em Deus. Faz da riqueza o seu deus. O apego aos bens terrenos é uma tentação contra a qual devemos lutar sempre. Não à toa Jesus diz com todas as letras: "dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus" (Mt 19,23). Não creio que isso seja uma retórica usada por Jesus. 

Quem reconhece Jesus como sua verdadeira riqueza é capaz de deixar tudo para segui-lo. Quem assim faz, não ficará sem recompensa (cf. Mt 19,29). Ouvi, certa vez, um bispo dizer: “Só é livre quem é pobre; só o pobre é livre”. Precisamos descobrir essa verdade, ainda que vivendo numa sociedade conduzida por um sistema que instiga o acúmulo e a riqueza.

Para tanto, devemos nos deixar guiar pelo amor tão sabiamente descrito por São Bernardo, cuja memória celebramos hoje: “O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o amarem”.

Perdão, Senhor, pelas vezes que me deixei levar pela soberba e pelo orgulho, afastando-me de ti, não sendo capaz de viver a pobreza nem o amor que basta a si mesmo. Amém!