Sair das margens

Quinta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum

5 de setembro

1Cor 3,18-23

Sl 23(24), 1-2.3-4ab.5-6

 Lc 5,1-11

 Por Pe. Geraldo Martins

A Boa Nova anunciada por Jesus atraía cada vez mais as pessoas que se apertavam para ouvi-Lo, cheias de admiração. Como Mestre, sentando em uma barca, Ele ensina as multidões. Devemos nos colocar também entre esses que se apertam para ouvir os ensinamentos de Jesus, sobretudo, nas situações embaraçosas de nossa vida. É dele que vem a luz e a inspiração tanto para enfrentarmos as intempéries próprias da realidade humana, quanto para sentirmos o amor e a misericórdia de Deus, nosso Pai.

Dirigindo-se, particularmente a Pedro, Jesus orienta que avance com a barca para águas mais profundas para lançar as redes. Pedro, pescador experiente, conhecedor do mar, trabalhara com sua turma a noite toda e nada pescara. Poderia, perfeitamente, objetar a Jesus e negar-se a seguir sua orientação. Contudo, ensina, com sua resposta, que não sabemos tudo. “Em obediência à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5).

Duas coisas nos impendem de pescas abundantes em nossas vidas. Em primeiro lugar, o medo das águas profundas. Muitos de nós preferimos a superfície porque nos dá mais segurança. Com isso, nada arriscamos e deixamos de fazer experiências que nos transformam. Avançar para águas mais profundas significa arriscar-se pelo Reino, colocar-nos em saída e enfrentar os riscos que isso implica. Faz-nos lembrar do papa Francisco: “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG, 49).

Em segundo lugar, a presunção e o orgulho que nos tornam autorreferenciais. Quem se aferra em seus próprios conceitos e em suas técnicas, fechando-se a qualquer nova possiblidade, perde a oportunidade de fazer experiências que podem transformar sua vida. Ao contrário, quem, reconhecendo sua pequenez e insignificância, se abre ao Transcendente e se deixa guiar por sua Palavra, vive a maravilha da presença de Deus que tudo transforma. É isso que aprendemos com a atitude de Pedro.

Nesse sentido, o evangelho dialoga com a Carta de Paulo aos Coríntios, proclamada na primeira leitura, quando o apóstolo ensina que “a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus” e que ninguém deve colocar sua glória nas pessoas porque tudo pertence a Deus (1Cor 3,19.21). Obedecer a Palavra de Jesus é sinal de sabedoria e sensatez, como fez Pedro.

Lançar as redes em águas profundas levou Pedro a se tornar discípulo de Jesus – “de hoje em diante você será pescador de gente” (Lc 5,10). Sem titubear, ele e seus companheiros “deixaram tudo e seguiram a Jesus” (Lc 5,11). O encontro com Jesus, de fato, nos transforma e dá novo rumo à nossa vida. Porém, se permanecermos na superfície, por medo, por omissão ou por qualquer outra razão, perderemos a oportunidade sentir a força transformadora da palavra de Jesus.

Deus de amor, faz-nos ouvir com o coração a Palavra de teu Filho a fim de que, vencidos o medo e a presunção, avancemos para águas mais profundas e nossa pesca seja farta.  Amém!