Dia Mundial dos Pobres


Pe. Geraldo Martins

“No banquete da festa de uns poucos, só rico se sentou. Nosso Deus fica ao lado dos pobres, colhendo o que sobrou”. 

Este verso da canção “Pão da igualdade”, da Irmã Cecília Vaz Castilho, eternizada em nossas liturgias como “Se calarem a voz dos profetas”, foi o primeiro pensamento que me veio à mente ao refletir sobre o Dia Mundial do Pobre, proposto pelo papa Francisco a ser celebrado pela primeira vez no dia 19 de novembro. Com esse dia, o papa conclama todas as comunidades cristãs a se tornarem “cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carentes”. 

Segundo o papa, “quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo, quando somos chamados a amar os pobres”. E acrescenta: “Não pensemos nos pobres apenas como destinatários de uma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz (...). Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia”.

Os bispos da America Latina e Caribe, em Puebla (1979), reafirmaram sua “clara e profética opção preferencial e solidária pelos pobres”, como já haviam feito em Medellin (1968). E acrescentaram: “Afirmamos a necessidade de conversão de toda a Igreja para uma opção preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação”, disseram os bispos (Puebla, 1134).

Na Conferência de Aparecida (2007), os bispos lamentaram as “débeis vivências da opção preferencial pelos pobres” (n. 110 b), ratificaram essa opção como “uma das peculiaridades que marca a fisionomia da Igreja latino-americana e caribenha” (391) e não deixaram dúvida: “que seja preferencial implica que deva atravessar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais” (n. 396).

A pobreza é uma realidade mundial, produzida por um sistema que idolatra o dinheiro e o lucro, ignorando a dignidade da pessoa humana. No início do ano, a ONG britânica Oxfam mostrou que as oito pessoas mais ricas do mundo têm o equivalente à soma do que possuem os 3,6 bilhões de pessoas mais pobres do mundo, ou seja, a metade da população mundial.  

No Brasil, segundo a Oxfam, os seis mais ricos concentram a mesma riqueza que os 100 milhões de brasileiros mais pobres. Já o economista Marcelo Neri, presidente do FGV Social, avalia que o Brasil possui 22 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Consideram-se nessa situação os brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 230,00 por mês.

Lamentavelmente, há muitos cristãos que tapam os ouvidos quando se fala no direito dos pobres. Ignoram que “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza” (Bento XVI). Que o Dia Mundial dos Pobres nos converta ao amor que se concretiza na partilha e na comunhão a exemplo dos primeiros cristãos que tinham tudo em comum (At 2,44). 

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