Nascidos para a vida eterna!¹

Pe. Geraldo Martins

“Amanhã, se eu acordar, Deus estará comigo. E se eu não acordar, estarei com Ele!”. Que belo pensamento e tão próprio para a celebração da comemoração de todos os fiéis defuntos, popularmente, Dia de Finados. Carregado de esperança, esse pensamento traduz a serenidade e a confiança de quem compreende a morte como o encontro com o Amor: Deus!

O Dia de Finados convida-nos a meditar sobre uma realidade que, às vezes, nos assusta e nos causa medo: a morte. Quantas pessoas têm pavor da morte! Tudo dependerá da forma como a compreendemos.

Imaginemos que tenhamos que entrar em um lugar extremamente escuro. Pode ser uma gruta, uma caverna ou mesmo um quarto. Se entrarmos guiados apenas pela luz de nossos olhos, nada mais natural que sermos tomados pelo medo. Mesmo os corajosos não conseguirão ver o interior do local ou verão muito limitadamente. Porém, se tomamos às mãos uma boa lanterna, com luz forte, tudo muda! O medo diminui ou acaba, cedendo lugar ao encantamento com a maravilha que descobriremos do lugar. Assim, poderemos explorar melhor o espaço e descobrir sua beleza e seus mistérios.

Esta imagem nos ajuda a entender um pouco sobre o mistério da morte. Se quisermos compreender seu significado baseado em nós mesmos, nos nossos conhecimentos puramente científicos e técnicos, ficaremos na superficialidade e não conseguiremos perceber a beleza desse mistério em sua profundidade. Ao contrário, se nos servimos da fé, tudo se transforma. A morte passa a ter pleno significado e a compreendemos verdadeiramente como ela é: manifestação da vida, nossa realização plena em Deus.

É isso que nos ensina a palavra de Deus proclamada na liturgia desse dia. O profeta Isaias não deixa dúvida: “O Senhor eliminará para sempre a morte e enxugará todas as lágrimas. Ele nos salvou” (Is 25,8s). Sua palavra é confirmada por Jesus que disse: “Os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem, viverão” (Jo 25,25).

A fé em Jesus Cristo, nossa ressurreição, é condição para se alcançar a vida plena. “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna” (Jo 25,24). Contudo, nada é mágico. A vida eterna não começa após a morte, mas é construída enquanto peregrinamos nesta terra. Por isso, devemos levar a sério a advertência de Jesus: “vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação” (Jo 25,28-29).

O livro do Eclesiastes também nos ajuda a pensar na vida a partir da morte quando afirma: “Mais vale o dia da morte do que o dia do nascimento. Mais vale ir a uma casa em luto do que ir a uma casa em festa, porque esse é o fim de todo homem; deste modo, quem está vivo refletirá” (Ecl 7,15).

A certeza da vida eterna não pode nos levar ao esquecimento de nosso compromisso com a vida vivida na terra como nos lembra o Concílio Vaticano II: “Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que buscamos a futura (13), pensam que podem, por isso, descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um” (GS 43)

Que a Eucaristia nos console ao fazermos memória de nossos irmãos e irmãs falecidos e nos aumente a fé, conservando-nos vivo e ardente o desejo de, um dia, também nós participarmos da glória eterna de Deus. Amém!

¹ Homilia na missa de finados - 2.11.18

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