Comunidades ribeirinhas, testemunho de fé e amor à Imaculada Conceição (7)

VII – De Laranjal para Paraíso Grande


Pe. Geraldo Martins

O agradável papo com três professores do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), sentados no chão do segundo andar do barco Príncipe das Águas II, tornou mais rápida nossa curta viagem até Laranjal, sexta comunidade a receber a imagem peregrina da Imaculada conceição. Falamos de língua portuguesa, da necessidade de educação ecológica da população, do momento político vivido pelo país, dos contadores de história, de projetos que o município poderia desenvolver na área ambiental e de vários outros temas. Abaixo, no primeiro andar do barco, os “Peregrinos e peregrinas da Imaculada” animavam a subida do Madeira com leilões e muita música.

No Laranjal, para abrigar os cerca de 200 peregrinos, Valdemir construiu uma cobertura com folhas semelhantes às de coqueiro. Ainda assim, muitos tiveram que se abrigar do forte sol na sombra das árvores. Na mesa central, debaixo da cobertura, o andor de Nossa Senhora da Conceição, ladeado pelas três imagens “padroeiras da comunidade”, como alertava Alex: São Sebastião, Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Rosário. Ao lado do andor, outra mesa, coberta por uma bonita toalha vermelha, lembrando o mártir São Sebastião, serviu de altar para a missa que presidi, assistido pelo diácono João. À frente das duas mesas, tapetes davam o tom festivo da celebração. No primeiro banco estava seu Milton, emocionado, agradecendo a missa de que participava.

Os textos bíblicos me inspiraram uma reflexão simples a partir de três palavras: fé, testemunho e oração. “A ressurreição nos faz participar de outra vida que não pode ser comparada com esta que vivemos aqui na terra. É isso que Jesus disse ao responder à pergunta irônica dos saduceus que não acreditavam na ressurreição. Só a fé nos faz acreditar nesta outra vida”, expliquei (cf. Lc 20,27-38). “Quem crê na ressurreição tem a coragem de dar testemunho, enfrentando a maldade dos poderosos e sofrendo até mesmo o martírio como fizeram os Macabeus da primeira leitura. É o mesmo que fizeram muitos missionários/as e defensores da vida e dos direitos humanos na luta por justiça, inclusive aqui na Amazônia”, acrescentei (cf. 2Mc 7,1-2.9-14). “A fonte para alimentar nossa fé e nos fortalecer no testemunho é uma só: a oração. Sem uma forte intimidade com Deus na oração, fraquejamos na fé e cedemos ao medo diante das dificuldades da vida”, conclui (cf. 2Ts 2,16-3,5).
 
Após a comunhão, de joelhos, Alex, coordenador da comunidade, fez uma homenagem à Imaculada Conceição. Cantou a ladainha de Nossa Senhora, seguido pelos membros da comunidade e pelos peregrinos. Acrescentou outras orações que costumam fazer na comunidade e encerrou com um gesto e um canto que lembram muito as congadas. Durante o canto, dois a dois, os devotos se ajoelhavam e beijavam a bandeira de São Sebastião.

Imediatamente após a missa, foi servido o esperado almoço oferecido pela comunidade. Antes, tive que ir até a cozinha para abençoar as/os cozinheiras/os e os marmitex que seriam distribuídos com seu conteúdo farto e saboroso. Já passava do meio dia e meia quando todos almoçavam. Dali, seguiríamos para a comunidade de Paraiso Grande, aproximando-nos, cada vez mais, da cidade de Humaitá, sinal de que a peregrinação estava perto de terminar para começar o novenário da padroeira.

A falta de profundidade não permitiu que o Príncipe das Águas parasse próximo de Paraíso Grande para que todos descessem. Apenas quatro pessoas acompanhamos o andor com a imagem até a comunidade. À beira do rio, crianças e adultos, com bandeirinhas e cantos, aguardavam animados a chegada do andor. No ar, a fumaça e o barulho dos foguetes anunciavam a presença da imagem de Nossa Senhora, conduzida em pequena procissão até à capela.

Ao fundo, no centro da capela, construída de madeira, o andor do padroeiro São Luiz de Gonzaga. O calor, impiedoso, nos fazia verter suor em abundância. Algumas pessoas improvisaram um leque com o papelão das caixas de foguete e abanavam-se no esforço de refrescarem-se um pouco. Os membros da coordenação da comunidade, uniformizados com uma camisa vermelha, personificada, demostravam tratar-se de uma comunidade organizada e animada, fazendo jus ao nome: “Paraíso Grande”.

Francisco, um dos membros da equipe de coordenação, fez as orações de acolhida da imagem. Parabenizei a comunidade pela organização e animação. Lembrei a todos que São Luiz Gonzaga é o padroeiro da juventude. “Por isso vocês têm o dever de rezar pela juventude”, disse. Falei também do carinho de Nossa Senhora para conosco. Claro, destaquei a presença das crianças, em grande número ali na capela, recordando o gesto de Jesus para com elas. “Quem não se tornar como criança, não entrará no Reino de Deus”, disse-lhes, citando o evangelho.

A hora avançava e não podíamos nos demorar. Bem no meio do Madeira, o Príncipe das Águas aguardava nosso retorno. A voadeira pilotada pelo Gabriel nos fez chegar a ele em pouquíssimos minutos. De onde estávamos já se podia avistar a “antena da Embratel”, sinal de que brevemente chegaríamos à cidade. Desta vez, não houve muito tempo para músicas e danças, por causa do curto caminho de volta e dos leilões.

Convocado a comparecer ao primeiro andar do barco, fui surpreendido por uma singela e carinhosa “cerimônia de despedida”. Este era meu último dia de peregrinação. Francisca leu-me uma belíssima mensagem em nome dos peregrinos. Fiquei emocionado e agradecido a Deus pela manifestação de amizade e carinho. “Vai, vai missionário do Senhor, vai trabalhar na messe com ardor. Cristo também chegou para anunciar, não tenhas medo de evangelizar”. Com este refrão, cantado em uníssono pelos peregrinos e peregrinas, senti-me enviado para a nova missão que, proximamente, Deus me confiará em minha querida Arquidiocese de Mariana.

A experiência da peregrinação da Imaculada Conceição foi ímpar. Celebrar com as comunidades ribeirinhas faz nascer em nós o desejo de estar mais frequentemente com esses irmãos e irmãs que trazem uma alegria incomum. Sentir o quanto a Virgem Maria é querida pelo povo anima a nossa fé.  Ela nos conduz a seu filho Jesus que nos revela o rosto misericordioso do Pai e nos conduz ao Reino.

No próximo domingo, 17/11, a peregrinação segue do Paraiso Grande para a comunidade de Paraisinho onde a imagem ficará até o dia 28 de novembro. Nesse dia, segundo apurei, vários barcos, festivamente enfeitados, se unirão ao Príncipe das Águas II, formando uma grande procissão fluvial, para conduzir o andor da Imaculada Conceição do Paraisinho até Humaitá. No porto, milhares de pessoas receberão a imagem e a conduzirão até a catedral para a abertura da novena que prepara a grande festa da padroeira da cidade e da diocese de Humaitá.

O desejo é de ficar e participar da tão esperada festa de Nossa Senhora da Conceição, mas a missão me chama e tenho que partir. Na mente e no coração, levo a todos com que tive a alegria de conviver e partilhar essa incrível experiência missionária pelas águas do Madeira. Obrigado, Mãe Imaculada, por essa graça que me fez aproximar ainda mais de teu amor e, por ele, de teu divino filho. Abençoa, abundantemente, teus filhos e filhas humaitaenses que tanto te amam e veneram! Sê inspiração, especialmente, dos jovens!


Peregrinos/as desembarcam na comunidade de Laranjal

Peregrinos/as aguardam o início da missa
Os coroinhas preparam o altar a celebração da missa
Criança segura a bandeira de São Sebastião, padroeiro da comunidade
Peregrinos/as participam da missa abrigando-se do sol
Peregrinos/as participam da missa abrigando-se do sol
A juventude também marca presença na peregrinação
Peregrinos/as participam da missa na cobertura que serviu de capela
Peregrinos/as participam da missa na cobertura que serviu de capela
Crianças da comunidade conduzem as oferendas na procissão das ofertas


Crianças da comunidade conduzem as oferendas na procissão das ofertas

Equipe prepara o almoço que a comunidade ofereceu aos peregrinos

Crianças da comunidade conduzem as oferendas na procissão das ofertas
Produtos da terra ofertados durante a missa

Alex presta homenagem a N. S. C junto com a comunidade
Valdemir, construtor da cobertura que abrigou os peregrinos para a missa

Moradores de Paraíso Grande indoao encontro da imagem peregrina

Comunidade de Paraíso Grande aguardando a chegada da imagem
A imagem de N. S. C. sendo levada de voadeira até Paraíso Grade
O andor é conduzido pelos moradores de Paraíso Grande até a capela

Imagem de N. S. C. sendo conduzida em procissão até à capela
As crianças abriram a procissão levando a imagem peregrina

Chegada da imagem à capela São Luiz Gonzada

Acolhida da imagem na capela
Moradores da comunidade acolhendo a imagem de N. S. C.

Peregrinos/as participam da missa abrigando-se do sol

Comentários

  1. Parabéns padre Geraldo Martins Dias, que Nossa Senhora da Imaculada Conceição o proteja em sua nova missão. Como deixou saudades em nossa comunidade tenho certeza que irá deixar muitas saudades ao povo de Humaitá.

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  2. Querido amigo Pe Geraldinho! Que coisa bonita desse povo que com fervor e muita fé demonstra o amor que tem a Nossa Senhora !Tenho a certeza que o senhor plantou uma semente no coração de cada um.Seu carisma atrai as pessoas. Sei que vai deixar muitas saudadecom deixou aqui tb.Que Deus continue abençoando e iluminando os sr na sua nova missão. Quem sabe :talvez vai está bem próximo a nós. Boa viagem!!Quem sabe :Até breve! !!Com carinho

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