A pandemia provocada pelo novo coronavirus tem agravado a crise política no país. Os constantes pronunciamentos do presidente da república têm causado indignação na população por desconsiderar a dor e o sofrimento dos que têm perdido seus entes queridos pela Covid-19. Na esteira de seu discurso caminha seu grupo de apoiadores defendendo, inclusive, a volta da ditatura numa afronta à Constituição.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) voltou a se pronunciar através de seu Conselho Episcopal Pastoral (Consep) divulgando, nesta quinta-feira, 30/4, uma nota em defesa da democracia.
Sem citar o nome do presidente da república, a nota dos bispos condena seu discurso e de seus apoiadores que minimiza a pandemia, estimula a violência e coloca em risco a democracia. "Não são toleráveis as manifestações sociais que atentam contra a Constituição, assim como não é tolerável que qualquer autoridade viole os preceitos constitucionais e despreze a vida", diz um trecho da nota assinada pela Presidência da Conferência.
Abaixo, a íntegra do pronunciamento dos bispos.
POSICIONAMENTO
DA CNBB
EM
DEFESA DA DEMOCRACIA, PELA JUSTIÇA E PELA PAZ!
“Parai
de fazer o mal, aprendei a fazer o bem: buscai o direito, socorrei o oprimido,
fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Então, sim, podemos
discutir” (Is 1,16b-18a).
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, por meio do seu Conselho Episcopal
Pastoral, reafirma, com veemência, seu compromisso com o “Pacto pela Vida e pelo
Brasil”, de 7 de abril passado, assinado inicialmente por seis respeitadas
instituições da sociedade civil e, posteriormente, por mais de 150 entidades,
considerando que “a hora é grave e clama por liderança ética, arrojada,
humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a sociedade, como compromisso e
bússola para a superação da crise atual”.
Diante
da mais grave crise sanitária dos últimos tempos, com o sistema de saúde já entrando
na fase de colapso, consideramos este momento dificílimo, que clama pelo
efetivo exercício da solidariedade e da caridade. É tempo das palavras e
atitudes serenas de paz, de fé e de esperança, de respeito às leis e à
democracia. É com perplexidade e indignação que assistimos manifestações
violentas contra as medidas de prevenção ao coronavírus; que ouvimos
declarações enviesadas de desprezo pela vida, por parte de agentes públicos
sobre a morte de milhares de brasileiros e brasileiras contaminados pelo
covid-19; que vimos acontecer eventos atentatórios à ordem constitucional, com
a participação de autoridades públicas, onde se defendeu o fechamento do
Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, a volta do AI-5 e o retorno
aos sombrios tempos da ditadura; que todo o Brasil soube de denúncias acerca da
politização da justiça, ferindo sua necessária autonomia de investigação.
A
Doutrina Social da Igreja ensina, com clareza a intocável harmonia e cooperação
entre os Poderes, base constitutiva da República, garantia do Estado
Democrático de Direito, o princípio de que “é preferível que cada poder seja
equilibrado por outros poderes e outras esferas de competência que o mantenham
no seu justo limite. Este é o princípio do ‘Estado de direito’, no qual é
soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens.” (CDSI, 408).
Portanto,
buscar soluções para os problemas do Brasil fora da institucionalidade democrática
e em confronto com os poderes da República, coloca em risco a democracia e a integridade
do povo brasileiro. Nessa perspectiva, não são toleráveis as manifestações
sociais que atentam contra a Constituição, assim como não é tolerável que
qualquer autoridade viole os preceitos constitucionais e despreze a vida.
Espera-se das instituições republicanas, garantidoras do Estado de direito, a
devida responsabilização dos que atentam contra a ordem democrática.
Reiterando
o posicionamento contido no "Pacto pela Vida e pelo Brasil”, a CNBB conclama
a sociedade e os responsáveis pelos poderes públicos a se libertarem dos vírus mortais
da discórdia, da violência, do ódio e a se unirem no único confronto que a
todos nos interessa nesse momento: a prevenção e o combate à Covid-19, em
defesa da vida, especialmente a dos mais pobres e vulneráveis.
O
cuidado da saúde das pessoas e da economia são fundamentais para a garantia da vida
em sua plenitude e não se opõem. Na perspectiva da Doutrina Social da Igreja, a
economia está a serviço da vida: "o princípio da destinação universal dos
bens convida a cultivar uma visão da economia inspirada em valores morais que
permitam nunca perder de vista nem a origem, nem a finalidade de tais bens, de
modo a realizar um mundo equitativo e solidário, em que a formação da riqueza
possa assumir uma função positiva." (CDSI, 174).
Sob
a proteção de Nossa Senhora Aparecida, Maria, mãe discípula de Jesus, irmanamo-nos
na luta empenhada por justiça e paz e pela democracia plena, onde deve prevalecer
o bem comum e a dignidade de cada pessoa, como partícipe da construção de uma nova
sociedade marcada pela solidariedade, como nos ensina o Papa Francisco: “o
risco é que possamos ser atingidos por um vírus ainda pior, o da indiferença
egoísta. Um vírus que se espalha pelo pensamento de que a vida é melhor se for
melhor para mim e que tudo ficará bem se for bom para mim.” (Papa Francisco,
19/04/2020).
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo
de Belo Horizonte – MG
Presidente
da CNBB
Dom
Jaime Spengler, OFM
Arcebispo
de Porto Alegre - RS
1º
Vice-Presidente
Dom
Mário Antônio da Silva
Bispo
de Roraima - RR
2º
Vice-Presidente
Dom
Joel Portella Amado
Bispo
Auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ
Secretário-Geral
da CNBB
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