Setenário das Dores de Maria III

3ª Dor – Perda do Menino Jesus no Templo***

Pe. Geraldo Martins

“Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que se encontrasse na caravana, caminharam um dia inteiro. Começaram então a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Mas, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém, procurando-o. Depois de três dias, o encontraram no templo, sentado entre os doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas” (Lc 2,43-46.48)

Reprodução
A terceira dor da virgem Maria se dá após a festa da páscoa da qual a família de Nazaré participava todos os anos em Jerusalém. Podemos imaginar as caravanas voltando da grande festa, tomadas de alegria e júbilo por recordar, mais uma vez, a ação libertadora de Deus em favor de seu povo outrora escravo no Egito. José e Maria viajam em caravanas separadas, seguindo o costume de sua época de homens caminharem em grupos separados das mulheres. As crianças podiam ir com o pai ou a mãe. 

São Beda, monge inglês do século VII/VIII, comenta esta cena: “São José e a Santíssima Virgem, não vendo o Menino ao lado, acreditaram, cada um por sua parte, que estava em companhia do outro”. Por essa razão, certamente, José e Maria só foram perceber a ausência do adolescente Jesus após um dia de caminhada.

Esta cena faz-me lembrar das grandes romarias que a piedade popular fez nascer em muitos lugares de nossa região. Nessas ocasiões, distraídas por tanta novidade, é comum crianças se perderem na multidão. Imediatamente alguém a toma pelo braço e a encaminha para o serviço de comunicação dos responsáveis pela organização da festa que logo anunciam a criança perdida a procura de seus pais. Em questão de pouco tempo, tudo esta resolvido e volta o alívio para pais e filhos.

Com Jesus, no entanto, foi diferente. Diz o evangelista que “no momento de voltarem, Jesus permaneceu em Jerusalém sem que seus pais percebessem” (Lc 2, 43). Teria Jesus ficado em Jerusalém de propósito? Seria, então, uma peraltice de adolescente? Rebeldia? Descuido ou displicência dos pais? Desígnios de Deus? A resposta fica por conta de cada um. 

A dor de Maria e José é causada pela aflição de não saberem onde está o seu filho e o que lhe pode acontecer. A procura é angustiante e dura três dias. Nesse tempo, o que Maria e José conversavam? Culpavam-se um ao outro? Amaldiçoavam o filho por essa atitude inexplicável? Ao contrário disso, colocam-se totalmente nas mãos do Senhor conforme se pode deduzir do diálogo de Maria com Jesus assim que o encontra: “Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu andávamos angustiados à tua procura” (lc 2,48).

Queridos irmãos e irmãs, a terceira dor de Maria e José leva-nos ao encontro das dores de inúmeros pais que também perdem seus filhos que ficam, não no Templo de Jerusalém, conversando com os doutores, mas nos templos do mundo que seduzem e matam.

Podemos pensar, por exemplo, na violência que ceifa a vida dos jovens. Segundo o Mapa da Violência, em 2017, no Brasil, foram assassinados 35 mil jovens entre 15 e 29 anos. Desses, a maioria era de negros e pobres. O tráfico de pessoas também vitima milhares de crianças e adolescentes. Segundo o Conselho Federal de Medicina, o desaparecimento de crianças e adolescentes no mundo cresce 10% a cada ano e parte dos desaparecidos acaba caindo em redes internacionais de tráfico humano e prostituição. O Brasil, lamentavelmente, registra cerca de 50 mil casos de desaparecimento de crianças e adolescentes por ano.

Há ainda a triste realidade da depressão, da automutilação e do suicídio entre os jovens, além da dependência química – droga e o álcool – que transforma em pesadelo o sonho de muitas vidas jovens. A aflição dos pais é maior por nem sempre saberem lidar com esses problemas. Nesses casos, a procura de seus filhos dura, não três dias, como foi o caso de Maria e José com Jesus, mas tempos infindos, só fazendo aumentar sua angústia e agonia.

Nesta terceira dor de Maria e José, os pais são chamados a aprender com eles três lições importantes. A primeira é ir à procura de seu filho tão logo percebam que não está perto de si. Ao invés identificar culpados pela perda do filho, partir a caminho a fim de encontrá-lo, sem pré-julgamentos, desarmadamente. Triste, no entanto, é constatar que, em muitos casos, os pais é que se perderam do filho, envoltos num ativismo exacerbado que lhes rouba o tempo de se encontrem com os filhos. 

A segunda lição é fazer com que o reencontro com o filho se dê no diálogo amoroso que acolhe e que procura compreender as razões de seu afastamento da vida. A terceira é reconduzir o filho para a casa. Mostrar-lhe que seu lugar é na família, a Igreja doméstica, onde se cresce “em idade, sabedoria e graça diante de Deus e das pessoas” (Lc 2, 52).

Desejosos de viver estas lições, à Virgem dolorosa pedimos:
Ó Maria, Virgem que sabe ouvir, nós vos saudamos, pois, cheia de aflição, procurastes vosso Filho perdido em Jerusalém. Vós o encontrastes entre os doutores do Templo, ocupado nas coisas que eram de seu Pai celeste; e mesmo sem compreender a palavra do vosso Filho, abristes o vosso coração materno para acolhê-la e conservar a lembrança de todos aqueles fatos. Concedei-nos, ó Mãe, guardar no coração a Palavra do Senhor e fazê-la frutificar em boas obras. Amém!

** Reflexão feita na missa do dia 31 de março de 2020 durante o Setenário das Dores de Maria

Comentários

  1. Muito boa a reflexão! Nos preocupamos a cada etapa de vida dos nossos filhos e pensamos se tomamos as decisões certas em relação ao seu futuro. Temos que nos pegar a Deus e ao exemplo de Maria e José para nos encorajar e acalmar nossos corações para traçar o caminho certos dos nossos filhos... Padre Geraldo lhe Deus abençoe! Forte abraço, Débora Santo

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  2. Corrigindo:

    Muito boa a reflexão! Nos preocupamos a cada etapa de vida dos nossos filhos e pensamos se tomamos as decisões certas em relação ao seu futuro.

    Temos que nos apegar a Deus em oração constante e ao exemplo de Maria e José para nos encorajar e acalmar nossos corações aflitos para que com amor e consciência possamos traçar o melhor caminho para nossos filhos.

    Padre Geraldo Deus lhe abençoe! Forte abraço, Débora Santos

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