Setenário das Dores de Maria VII


7ª Dor – Sepultamento de Jesus

Pe. Geraldo Martins

“No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ninguém havia sido ainda sepultado. Por ser dia de preparação para os judeus, e como o túmulo estava perto, foi lá que eles colocaram Jesus” (Jo 19,41-42)

A sétima dor da virgem Maria é identificada com o sepultamento de seu filho querido. A pedra que fecha o túmulo passa a ideia de que tudo acabou e de que, a partir de agora, Maria não mais terá a presença de seu filho junto de si. Passa a habitar seu coração o sentimento de vazio e de solidão. Maria tornar-se, por excelência, nesse momento, a Virgem do Silêncio, ao Senhora da Soledade, totalmente entregue aos desígnios do Pai, à espera da volta gloriosa de Jesus que há de vencer a morte pela ressurreição.

Queridos irmãos e irmãs, o túmulo de Jesus abre nossos olhos para a realidade mais humana que conhecemos: a morte. Sabemos que ela é inevitável, porém, nunca estamos preparados para ela. Se nos fixarmos na pedra que lacra o túmulo como obstáculo intransponível e enxergamos o túmulo como morada definitiva do ser humano, a morte se torna pesadelo do qual nunca se acorda.

Há pessoas que, mesmo em vida, parecem habitar continuamente um túmulo cerrado pela pedra do egoísmo, da indiferença, da insensibilidade, da presunção, do autoritarismo, do pecado. Aqui está a verdadeira morte, para além da morte física. A esse respeito disse Bento XVI: “Há outra morte, que custou a Cristo a luta mais dura, inclusive o preço da cruz: é a morte espiritual, o pecado, que ameaça arruinar a existência de cada homem” (Angelus 10/4;11). Cuidemos, irmãos e irmãs, para não sermos apanhados por essa morte.

Diante da morte e do sepultamento de Jesus, Maria nos ensina o lugar do silêncio em nossa vida. É de se supor que não teriam faltado os parentes e amigos a colocar-se ao lado de Maria para consolá-la com palavras de encorajamento e ânimo e, assim, ajudá-la a superar a dor da perda. Não é isso que acontece conosco?! E, nessa hora, quanta gente, mesmo que com reta intenção, revela-se inconveniente e inoportuna. Com Maria não deve ter sido diferente. Em muitas ocasiões perdemos a oportunidade de ser força apenas pela presença silenciosa. Esquecemo-nos de que Deus, muitas vezes, fala mais pelo silêncio do que pela palavra.

Bento XVI nos ajuda a compreender a força do silêncio na mensagem que escreveu para o Dia Mundial das Comunicações de 2012. Diz o papa: “No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. (...) Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus”.

O silêncio nos remete à contemplação. E há fatos que, para sua compreensão, exigem a mística da contemplação. Estamos diante de um desses fatos: a morte, o túmulo, o sepultamento, a pedra. É isso que a Virgem contempla no seu silêncio. E o que ela vê em sua contemplação? A grandeza de Deus que, dada a limitação da linguagem humana, só pode ser expressa pela linguagem da contemplação como ensina o mesmo Bento XVI. “A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva”[1].

Estamos vivendo momentos dificílimos, cruciantes, dolorosos, sacrificantes por conta da pandemia do cornonavírus. Assusta-nos o número dos mortos, vítimas da Covid-19. Machucam-nos as duras, mas necessárias medidas tomadas pelas autoridades para conter a contaminação pelo novo coronavírus. Diante dessa realidade, para além de todos os esforços que os cientistas, profissionais da saúde, autoridades e população têm feito para barrar esse mal terrível, reafirmemos nossa fé no crucificado-ressuscitado. Sua Paixão, Morte e Ressurreição não foram em vão. A morte e o mal não têm a palavra final. É isso que a Virgem do silêncio testemunhou. É nisso que também nós cremos.

Confiantes de que podemos contar com o auxílio da Mãe de Jesus, experimentada na dor e no sofrimento, como seu filho, a ela recorremos:
Ó Maria, ao acompanhar o sepultamento de vosso divino Filho, ensinai-nos a confiar na Palavra do Pai que não abandona os que lhe são fieis. Alcançai-nos a força da fé a fim de suportarmos o vazio da perda de quem amamos; animai nossa esperança que nos faz crer na vitória da vida sobre a morte.

[1] BENTO XVI. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações 2012: Silêncio e Palavra: caminho para a Evangelização.

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