Setenário das Dores de Marina II


2ª Dor – Fuga para o Egito**

Pe. Geraldo Martins

“Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: ‘levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo’. José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito; e ficou lá até a morte de Herodes” (Mt 2,13-15).
Reprodução

O nascimento de uma criança é motivo singular de alegria e felicidade, não só para seus pais e familiares, como também para todos que fazem parte do círculo de suas relações e, por extensão, para toda a humanidade. A notícia do novo nascimento de uma criança se espalha rapidamente e, hoje, com a facilidade das redes sociais, não temos noção da dimensão de seu alcance. Tudo chama a celebrar a vida como dom e compromisso. 

No caso de Jesus, esse clima de alegria vivido por seus pais, rapidamente, cedeu lugar à dor e ao sofrimento. O notícia de seu nascimento não foi bem recebida pelos poderosos, personificados em Herodes, que viu Jesus como uma ameaça ao seu trono, afinal, a notícia dava conta de que acabara de nascer o rei dos judeus. O que faz Herodes? Usa daquilo que os poderosos possuem de melhor quando se sentem ameaçados no seu projeto de poder: a força. Ordena a morte das crianças de zero a dois anos com o intuito de matar também o menino Jesus. 

Para proteger a vida de seu recém-nascido, Maria e Jose têm que fugir. Passam da condição de família segura e protegida entre seus parentes e amigos em sua pátria à de refugiados em terra estrangeira. Foram, certamente, tomados da insegurança e da incerteza que acompanham todos que são obrigados a se mudar, repentina e urgentemente, para uma terra que não é sua. 

Percebemos a agudeza da segunda dor de Maria, compartilhada com seu esposo José, quando nos damos conta de que esse sofrimento é causado pela ambição de quem está no poder e nele quer se manter a todo custo. É doloroso constatar que quem deveria proteger a vida, particularmente, a dos pobres, pequenos e indefesos, ao contrário, torna-se seu principal algoz. Cuidemos para que não seja assim, em nosso país, nesse tempo da pandemia do coronavírus que traz consigo, além do sofrimento inerente à doença, consequências econômicas duríssimas que afetam a todos, mas, com maior ênfase, os de vulnerabilidade social.

A dor de Maria é intensa, ainda, pelas condições da saída de sua terra. Em primeiro lugar, ela o faz de maneira forçada. As circunstâncias é que a obrigam a isso. Há dor maior que ser forçado a fazer algo que não se quer? Em segundo lugar, o horário da fuga: à noite. Para defender a vida, não se pode perder um instante. É preciso agir rápido, enfrentar a noite e a dureza da estrada, nas condições que for possível. Em terceiro lugar, o destino: uma terra estrangeira. Podemos imaginar as dificuldades daquele jovem casal em outro país: como ficaria sua sustentação? Seria fácil adaptar-se a outra cultura? E a oficina de José, em Nazaré, como ficaria? Com quem deixar as coisas? A quem confiar? O que levar? Obrigados a fugir, tornam-se refugiados e não migrantes. 

Esta dor de Maria faz-me recordar os milhões de refugiados no mundo. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), refugiados “são pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados”. Não foi exatamente isso que aconteceu com Maria, José e o Menino Jesus?

De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados, em 2018, no Mundo, havia 26 milhões de refugiados reconhecidos e, no Brasil, 11 mil, além de 161 mil solicitações. A dor de Maria e de José, refugiados no Egito, está presente na dor desses milhões de irmãos e irmãs por quem o papa Francisco tem pedido tanto. Eles fogem da fome, da guerra, da perseguição política. Lamentavelmente, nem sempre são acolhidos e se tornam vitimas também de xenobia e discriminação.

Irmãos e irmãs, esta dor de Maria continua nos pais que veem seus filhos ameaçados pela violência, pela prostituição, pelo tráfico de drogas que joga tantos jovens no submundo das prisões brasileiras, pela ilusão da riqueza e do poder. Não são poucos os pais que acordam sobressaltados pelos sonhos e pressentimentos em relação aos filhos que estão com sua vida por um fio. Estes pais, como Maria e José, tornam-se refugiados de sua própria vida.

Maria e José ensinam aos pais de hoje a estratégia para preservar a vida de seus filhos: buscar seu refúgio em Deus que lhes dá força para vencer o poder do sistema que seduz seus filhos e lhes rouba a vida sem que percebam. Imploremos seu auxílio para que também nós saibamos enfrentar os desterros forçados para proteger a vida, dom e compromisso.

 Rezemos a Maria: 
Mãe querida, ao contemplar a aflição com que fugistes para o Egito a fim de salvar a vida de vosso divino Filho, nós vos pedimos: amparai os que têm sua vida ameaçada e socorrei os que são perseguidos por causa de sua fé. Amém!
** Reflexão feita na missa do dia 30 de março de 2020 durante o Setenário das Dores de Maria

Comentários

  1. "... amparai os que têm sua vida ameaçada e socorrei os que são perseguidos por causa de sua fé. Amém!"🙏

    ResponderExcluir
  2. Virgem Maria, pela sua dolorosa dor intercedei por nós e pelo mundo inteiro...

    Padre Geraldo suas palavras continue entrando em nossas almas como alento e muitas reflexão.... Que Deus e a Virgem Maria o proteja sempre

    ResponderExcluir

Postar um comentário