Domingo – 20.09.20
Evangelho: Mt 20,1-16
Há muitas passagens do evangelho que nos intrigam e inquietam a ponto de nos tornar confusos. Uma delas é proclamada neste 25º Domingo do Tempo Comum. Trata-se da parábola que conta a história de um patrão que sai de casa cinco vezes ao longo do dia para contratar trabalhadores para sua vinha. O intrigante na parábola não é isso, mas o gesto do patrão que, ao final do expediente, paga a todos o mesmo valor, começando pelos últimos que trabalharam apenas uma hora. O patrão é o centro da parábola.
A imagem da vinha, com muita frequência, é usada na bíblia
para designar Israel, o povo de Deus. Assim, segundo alguns biblistas, os
trabalhadores que vão de madrugada para a vinha representariam o povo de
Israel, os judeus, a quem primeiro se destinaria a salvação. Eles são o povo
eleito que acompanhou toda a história da salvação. Já os trabalhadores do final
do dia, seriam os pagãos ou os pecadores que só entrariam no Reino após os
judeus.
Jesus, ao contar essa parábola, revela, através do gesto do
patrão, que os pensamentos e os caminhos de Deus são diferentes dos pensamentos
e caminhos dos seres humanos (Is 55,8). Ao concluir que “os últimos serão os
primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16), Jesus tem como
destinatários os Judeus que o rejeitavam, julgando-se melhores que os pecadores
e, portanto, salvos. A justiça de Deus se faz a todos, mas começando com os
últimos, que ficaram na praça, sem nada fazer, não porque não quisessem
trabalhar, mas porque ninguém os contratou (Mt 20,7). Representam os sobrantes
da sociedade. E hoje são tantos e tantas...
Essa parábola, ontem como hoje, é uma denúncia contundente à
forma como a sociedade se organiza, olhando e recompensando as pessoas de
acordo com seu mérito e não com sua necessidade. Encontramos aí uma das causas
mais fortes da desigualdade social, da exclusão, da pobreza e da miséria.
Deveríamos nos debruçar na afirmação do patrão – “Eu eu lhes pagarei o que for
justo” (Mt 20,4) – para descobrir como a justiça de Deus transcende os
critérios humanos, como nos lembra o profeta Isaías no texto proclamado na
primeira leitura.
Chama atenção como a justiça de Deus provoca inveja naqueles
que pensam apenas em si, ignorando a necessidade do outro. Numa sociedade
capitalista, neoliberal, o gesto do patrão é imperdoável! Traduzindo: no
capitalismo não há lugar para a justiça de Deus porque, na lógica do capital, a
pessoa vale e ganha pelo que produz ao passo que, na lógica de Deus, o que
conta é a dignidade de seus filhos e filhas.
Qual a saída? Conversão! Buscar e invocar o Deus
misericordioso e justo apontado por Jesus. Abandonar o caminho da impiedade,
das injustiças, das maquinações, voltando-se para o Senhor (cf. Is 55,6-7),
convertendo-se a Ele de coração. Acolher a bondade de Deus e jamais se
escandalizar com sua justiça, fruto de sua bondade.
Ó Cristo, vós nos revelastes a justiça e a bondade do Pai.
Fazei-nos abertos à sua graça e dai-nos força para nos opormos a todo sistema
que gera os “descartáveis” da sociedade. Convertei-nos! Amém!.
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