A Palavra se faz vida

Sexta-feira – 04.09.20

Evangelho: Lc 5,33-39

 Havia três práticas de piedade muito caras aos judeus que continuam presentes na vida dos cristãos: a oração, a esmola e o jejum. Um dos motivos dos constantes conflitos dos doutores da lei e dos fariseus com Jesus dizia respeito à Lei, inclusive a que determinava o jejum. Daí o questionamento por que os discípulos de Jesus não jejuarem, desobedecendo a prescrição legal (lc 5,33).

Muito apegados à letra da lei, esses dois grupos não compreendiam o novo trazido por Jesus que veio não para abolir a lei, mas dar-lhe pleno cumprimento (cf. Mt 5,17). Em sua resposta, Jesus revela o mais importante: reconhecê-lo e aceitá-lo como o noivo que dispensa os convidados do jejum enquanto está com eles. Depois, sim, jejuarão de um forma nova, centrada na interioridade mais que na exterioridade. Um jejum que se traduza na partilha e na solidariedade, fruto da compaixão com os empobrecidos. 

Essa passagem de São Lucas faz-me pensar em tantos irmãos e irmãs que, como os doutores da lei e os fariseus, parecem andar com lupa a caçar práticas que ferem a ortodoxia e a doutrina, colocando-se como seus guardiães, julgando-se mais católicos que os demais. Beirando ao fundamentalismo e à intolerância, acabam por esquecer o Evangelho, evocando um Deus que mais parece um juiz implacável que um pai misericordioso e compassivo. Estão sempre vigiando quem pode e quem não pode comungar; quem pode e quem não pode ser padrinho/madrinha de batismo; quem vai e quem não vai à missa; quem participa de manifestações em defesa dos direitos humanos etc.

Urge que transformemos nossos corações a fim de que se tornem odres novos para acolher o vinho novo que Jesus nos oferece gratuitamente. Enquanto ficarmos apegados a tradicionalismos, privamo-nos da graça libertadora que Deus nos oferece em seu Filho Jesus. Deixemo-nos conduzir pela novidade que é o próprio Cristo e, então, todas nossas práticas de piedade farão sentido e nos renovarão.

Pai de amor, renovai nosso coração a fim de recebermos o vinho novo do amor, do perdão, da misericórdia, da partilha e da compaixão que vosso Filho nos trouxe. Perdoai nossas resistências ao novo e nosso apego a tradições que nos escondem vosso verdadeiro rosto. Amém.

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