A Palavra se faz vida

Sexta-feira – 23.10.20

Evangelho: Lc 12,54-59

Discernir os sinais dos tempos. Esta é a tarefa dos cristãos e significa saber olhar para a história na sua concretude, mas também para a vida no seu aspecto transcendental. Jesus censura seus interlocutores por saberem interpretar os sinais da natureza, se vai chover ou se vai sair o sol, porém, não fazem o mesmo em relação à sua missão e aos sinais que realiza – “Vocês sabem interpretar a aparência da terra e do céu. Como é que não sabem interpretar o tempo presente?” (Lc 12,56).

Para interpretar “o tempo presente”, isto é, os sinais de Deus e de seu Reino na história, é necessária uma profunda intimidade com Deus, uma espiritualidade que nasce da oração, da reflexão e da meditação. Como discernir os sinais dos tempos se vivemos na superficialidade e não nos permitimos repousar no Senhor? Ficamos empanturrados de informações, damos conta de tantos fatos e situações de forma quase instantânea, tudo favorecido pela velocidade das tecnologias da comunicação, mas não conseguimos distinguir os sinais dos tempos porque nos falta tempo para ruminá-los e perceber o que nos dizem para além do que apresentam.

Quem percebe os sinais de Deus presentes no ministério de Jesus, ou seja, a salvação, busca a reconciliação e a paz, como recomenda Jesus – “quando você for com seu adversário ao juiz, faça o esforço de entrar em acordo com ele no caminho” (Lc 12,58). Devemos, pois, viver voltados para esses valores do Reino revelados pelo Cristo ao longo de sua missão.

Ajudem-nos, nesse propósito, as palavras de São João XXIII no discurso de abertura do Concílio Vaticano II: “No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos sugestões de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, elas não veem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada aprendeu da história, que é também mestra da vida (...). Parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo”.

Senhor, dá-nos teu Espírito de luz e sabedoria a fim de sabermos discernir, na verdade e na serenidade, os sinais que, na história, nos comunicam teu amor que liberta e salva. Amém!