O caminho da perfeição
Mateus 5,43-48
Por Pe. Geraldo Martinis
Estamos diante de uma das páginas mais exigentes do evangelho e que deveria nos incomodar profundamente: amar o inimigo e rezar pelos que nos perseguem (cf. Mt 5,44). Em Levítico, a lei dizia apenas “Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Nenhuma referência, portanto, a “amar o inimigo”. Eis a novidade da lei que Jesus veio aperfeiçoar. Se já tínhamos dificuldade de ‘amar o próximo como a nós mesmos’, que dirá, então, amar quem é inimigo! Essa é, porém, a condição colocada por Jesus para sermos chamados filhos de Deus (Mt 5,45).
Como entender esse
mandamento que nos incomoda e enche de dúvidas? Deveríamos, primeiro, nos
perguntar o que entendemos por amar. Se reduzimos sua prática a sentimentos que passam
pelo gostar, pela simpatia, pela afinidade, não conseguiremos
cumprir a novidade trazida por Jesus. Se, porém, consideramos amar como a
prática do bem em favor do outro, fica bem mais fácil viver o amor ao inimigo.
O papa Francisco diz
exatamente isso ao comentar o hino do amor, da carta de São Paulo aos
Coríntios, na Exortação Apostólica Amoris Laetitia: “No conjunto do texto,
vê-se que Paulo quer insistir que o amor não é apenas um
sentimento, mas deve ser entendido no sentido que o verbo amar tem em hebraico:
‘fazer o bem’. Como dizia Santo Inácio de Loyola, ‘o amor deve ser colocado
mais nas obras do que nas palavras’” (AL, 94).
Amar, portanto, é
agir em favor do outro a partir de sua necessidade. Não implica,
necessariamente, afinidade, amizade ou convivência próxima. O exemplo vem do
próprio Deus que não escolhe amar este ou aquele, mas “faz nascer o sol sobre
maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injusto”, ou seja, faz o
bem a todos indistintamente. Nisso consiste sua perfeição que devemos almejar –
“sejam perfeitos como o Pai celeste de vocês é perfeito” (Mt 5,48). Caminhamos nessa direção?
A violência, em suas
múltiplas formas, nasce de corações que jorram vingança, ódio, raiva, rancor. Estes sentimentos
expulsam o amor de dentro de nós e nos impedem de ver o outro como irmão a quem devemos fazer o
bem, mesmo que nos tenham feito o mal. A oração é meio eficaz para apaziguar
nossos corações em relação aos que nos perseguem e fazem mal. Ela nos coloca no
caminho do amor, entendido como a boa obra em favor até mesmo dos que nos causaram
algum tipo de violência.
Não podemos brincar
de viver o Evangelho. A conversão que buscamos nesse tempo quaresmal passa,
necessariamente, pelo esforço de “amar os inimigos e rezar pelos que nos
perseguem”. Jesus não teria dito essas palavras se não fossem praticáveis. O exemplo
veio dele mesmo, no alto da cruz, quando intercede por seus algozes: “Pai,
perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Aí está o caminho da perfeição e todos somos chamados a caminhar por ele.
Amor é agir em favor do outro a partir de sua necessidade
ResponderExcluirPadre Geraldo, como é bom sentir o cuidado que tem conosco, partilhando estas reflexões todas as manhãs, nos ajudando a viver bem nosso dia!
ResponderExcluir"Fazer o bem"
Muito bonito, isto faz a gente se sentir mais fortalecido ,
ResponderExcluirQue reflexão! Show.👏👏👏🙏💗
ResponderExcluirPraticar o perdao é amar em nome de Cristo; é alimento para a alma.
ResponderExcluirMano, obrigada por esta bela reflexão.
Amém!!
Bom dia, Padre Geraldo! Como é bom ouvir a Palavra de Deus pela sua voz, todas as manhãs... Quanta sabedoria e verdade em tudo o que o senhor fala! Grande abraço.
ResponderExcluirMuito dificil e incomoda muito perdoar o inimigo, mas como isso conforta e nos faz seres verdadeiramente humanos e crentes ao Evangelho. Paz e Bem a todos!
ResponderExcluirRefletir é preciso, pra mudar nossa rota e nosso jeito de caminhar...
ResponderExcluirJesus, ensina-nos a amar nossos irmãos, como nos ama e a perdoa-los, da forma que o nos perdoa. Daí-nos um coração igual ao Seu Senhor. Que saiba sempre, amar e perdoar.
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