A Palavra se faz vida

O maior mandamento

Mc 12,28-34

Por Pe. Geraldo Martins 

A dúvida do doutor da lei sobre qual seria o primeiro de todos os mandamentos justifica-se, dado o número excessivo de normas que, com o tempo, foram se acumulando na prática religiosa do povo de Israel – eram 248 mandamentos e 365 proibições. A resposta de Jesus não é uma novidade. Ele recorre a Dt 6,4, passagem de todos conhecida, para mostrar que o amor a Deus está acima de tudo.

A novidade, porém, está no fato de Ele ir além do que perguntara o mestre da lei e revelar o amor ao próximo como o segundo mandamento, de acordo com Lv 19,18. E conclui dizendo que “não há maior mandamento do que estes” (Mc 12,31), mostrando que ambos formam uma unidade indivisível.

Santo Agostinho, comentando essa passagem evangélica, ensina que “o amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução”. Portanto, se quero demonstrar meu amor a Deus, devo começar por amar o próximo tal como me amo. Quem de nós faz mal ou despreza a si mesmo? Em sua primeira carta, São João chama de mentiroso quem diz que ama a Deus, mas odeia o irmão porque é impossível amar a Deus, que não se vê, sem amar o próximo, que se vê (cf. 1Jo 4,20). Já fomos mentirosos alguma vez?... Conhecemos alguns mentirosos?...

O desafio, no entanto, é a concretização desse amor na sua dupla dimensão – a Deus e ao próximo. Nós o falseamos se o reduzimos a sentimentos e não o traduzimos em ação concreta em favor dos irmãos e irmãs. Para tanto, temos que nos dar por inteiro na ação que empreendemos, vencendo o ódio, o rancor e a indiferença que nos impedem de amar o próximo como a nós mesmos. Só assim o culto que prestamos a Deus fará sentido.

Lembremo-nos desta advertência do papa Bento XVI: "o amor ao próximo é uma estrada para encontrar também a Deus, e que o fechar os olhos diante do próximo torna cegos também diante de Deus", afinal, "só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama" (Deus Caritas est, nn. 16 e 18)