A Palavra se faz vida

 A verdade que liberta

Jo 8,31-42

 Por Pe. Geraldo Martins

Quem se dispõe a seguir Jesus tem como compromisso permanecer em sua palavra. Isso significa assumir seus ensinamentos e praticá-los até às últimas consequências; fazer dele o único referencial da própria vida e nele depositar toda sua esperança. Este é o caminho para alguém tornar-se discípulo de Jesus, conhecer a verdade e, assim, torna-se livre (cf. Jo 8,31-32).

O pecado escraviza a pessoa que, voltada para si mesma, busca a satisfação de seus próprios interesses, abandona o caminho do amor e ignora os valores do Reino, entregando-se a práticas que mancham a dignidade de filha de Deus com a qual foi criada – “Todo aquele que faz pecado é escravo do pecado” (Jo 8,34). Quem está no pecado, perde o controle sobre si mesmo e passa a viver sob as ordens do mal. A libertação desta escravidão se dá no momento em que a pessoa conhece a verdade, que é Jesus Cristo, e por ela se deixa conduzir. Isso só é possível para quem se dispõe a conhecer e permanecer em sua palavra.

O pior pecado é não admitir-se escravo do pecado e julgar-se livre, afirmando ser filho de Deus, mas negando Jesus Cristo como enviado do Pai, como ocorreu com os judeus que queriam matar Jesus (Jo 8,37.40). Só seremos verdadeiramente livres se nos deixarmos libertar por Jesus (cf. Jo 8,36).

Quem se assume como filho de Deus deve praticar as obras de Deus e não as obras do pecado. Às vezes nos contradizemos, como os interlocutores de Jesus neste discurso registrado por São João, afirmando que somos de Deus, mas agindo de maneira oposta à sua vontade, fechando-nos aos ensinamentos de seu filho Jesus – “se Deus fosse mesmo o Pai de vocês, vocês me amariam porque eu saí de Deus e estou aqui” (Jo 8,42).

O amor à verdade é que nos faz autênticos discípulos de Jesus a exemplo de Santo Oscar Romero cuja memória celebramos hoje. Arcebispo de El Salvador, ele foi assassinado em 24 de março de 1980, no momento em que celebrava a eucaristia, por ter assumido a defesa dos pobres e excluídos contra a exploração de que eram vítimas.

Sua fidelidade a Jesus Cristo é comprovada na homilia que proferiu na vigília pascal de 1979: “Tenho sido frequentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhes que como cristão não creio na morte sem ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no meu povo salvadorenho. Digo isso sem orgulho, com a maior humildade… Como pastor, estou obrigado a dar a vida por quem amo, que são todos os salvadorenhos, como também aqueles que vão me matar. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador”.