Homilia no Domingo de Ramos - 28.03.21
Por Pe. Geraldo Martins
Na rua, misturado e identificado com o povo, Jesus mostra que veio para libertar da opressão os pobres e descartados pela sociedade. O grito que sai da boca do povo é o grito de sua libertação: – “Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem”. Pobre e humilde como o povo que o segue, Jesus não almeja poder - nem político, nem econômico, nem religioso. Servindo-se de um jumentinho, animal de carga dos pobres, denuncia os poderosos que fazem do povo seu ‘animal de carga’ à custa de quem se enriquecem. Qualquer semelhança hoje não é mera coincidência...
No Palácio do governador, diante do poder constituído, Jesus se revela o Filho de Deus. Falam por si seu silêncio, suas obras e seu testemunho. Conscientes de que não têm prova contra Jesus, seus inimigos incitam o povo a clamar contra Ele. Ontem como hoje, o poder de persuasão dos poderosos soa como coação e chantagem que, nem sempre, deixa ao povo o direito de decidir e agir com a liberdade de sua consciência.
O que nos ensinam estas duas cenas? Pelo menos duas lições: a grandeza que vem da pequenez e a força que nasce da fraqueza.
A Carta aos Filipenses relata que Jesus esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos seres humanos. Em sua baixeza, Ele mostrou sua grandeza. Aclamado rei e messias, Ele assume esta identidade da forma mais humilde que se poderia imaginar: humilhando-se e fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,8).
Diante do poder dominante, que julga e condena de acordo com seus interesses, Jesus mostra aparente fraqueza. Qual servo sofredor, Ele ofereceu as costas a quem lhe batia, o rosto a quem lhe arrancava a barba e lhe cuspia (Is 50,6). Na cruz que lhe é imposta como castigo, revela sua força, vencendo-a pela ressurreição. Sua vitória, porém, não é reconhecida por quem o condena, mas por um soldado: “verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15,39).
A vocês peço que testemunhem duas coisas: a força da fé e a defesa da vida.
A fé nasce do encontro com Jesus que não é uma ideia, mas uma pessoa concreta que viveu toda a experiência humana, menos o pecado. Lembrem-se de que, como vocês, Ele também foi jovem. Embora os evangelhos não narrem nada de sua juventude, podemos intuir que fez tudo o que é próprio de um jovem: em casa, ajudava os pais; na religião, frequentava o templo, a sinagoga e aprendia a Lei; na vida social, convivia com os amigos; no trabalho, ajudava seu pai na carpintaria. Foi assim que Ele se preparou para a missão. Por isso, identificou-se tão facilmente com os que mais sofriam e clamavam por vida.
Quanto mais vocês encontrarem esse Jesus humano, tanto mais se apaixonarão por Ele. Esse é o caminho para se tornarem seus discípulos: apaixonar-se por Ele. Muitos já estão nesse caminho. Outros estiveram nele e o abandonaram. Entraram por atalhos e se perderam. E você?
Fujam de uma fé que os conduz a um Jesus que não seja parceiro dos pobres e excluídos, dos lascados da vida. Testemunhem uma fé que os leve a assumir, em primeira pessoa, a luta pelos direitos humanos, pela dignidade da vida humana, pelo fim do racismo, da discriminação, do preconceito, da intolerância, do fundamentalismo.
Neste tempo da pandemia, exorto-os a serem protagonistas da vida. Estimulem seus amigos a cumprirem as normas de segurança contra a Covid-19. Preservem a própria vida e a de seus irmãos e irmãs. Para tanto, "levantem-se e testemunhem o que veem!".
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