A Palavra se faz vida

 O Crucificado está vivo

Lc 24,35-48

Por Pe. Geraldo Martins

As várias aparições de Jesus aos apóstolos são sinal de sua ressurreição e, juntamente com o túmulo vazio, provam que Ele venceu a morte. Neste texto de Lucas, ao se colocar no meio dos discípulos que estavam reunidos e mostrar-lhes as mãos e os pés para que vissem as chagas abertas pelos cravos da crucificação, Jesus confirma que Ele é o crucificado, agora, ressuscitado. A morte não teve a última palavra e ninguém pode duvidar de que Ele está vivo.

A fé, no entanto, é o elemento chave para se afirmar a ressurreição de Jesus. Sem ela, de nada adiantam o túmulo vazio e as aparições de Jesus. A falta de fé nos faz confundir o Ressuscitado com um fantasma (Lc 24,39) e a cruz continuará sendo escândalo e loucura. A fé nasce do estar com Jesus, poder tocar nele – “toquem em mim e vejam” (Lc 24,39) e deixar-se guiar pelas Escrituras – “abriu-lhes a inteligência para entenderem as Escrituras” (Lc 24,45).

Os cristãos não adoramos nem seguimos a um Deus morto, derrotado pela cruz e pelo sofrimento. Ao se mostrar aos apóstolos, deixar-se tocar por eles, tomar refeição com eles, Jesus deixa claro que está vivo. Esta verdade deve ser testemunhada por seus discípulos. A fé se torna, portanto, encontro com a pessoa de Jesus que, ressuscitado, a todos oferece a salvação e o perdão (Lc 24,47).

Na experiência da fé pascal, outro elemento chave é a comunidade. A ela o Crucificado-Ressuscitado se revela e confia a missão de anunciá-lo ao mundo – “vocês serão testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48). A esse respeito, diz o Documento de Aparecida: “Diante da tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela ‘nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão’” (DAp 156).

Mesmo nesse tempo da pandemia que nos obriga a abrir mão do estar juntos fisicamente para celebrar nossa fé em vista do cuidado com a vida, nosso bem maior, é possível fazer a experiência da fé pascal em comunidade. Afinal, nossa família, Igreja doméstica, é a primeira comunidade onde o Ressuscitado se manifesta. Se não somos capazes de encontrar Cristo vivo na comunidade-família, não é num templo que o encontraremos.