A Palavra se faz vida

Presente pela fé

Jo 16,16-20

Por Pe. Geraldo Martins

Ainda que pareça enigmático, Jesus fala aos discípulos sobre sua paixão, morte e ressurreição de modo a prepará-los para esse momento. O tempo de sua presença física no mundo está chegando ao fim pela paixão e morte que sofrerá. Ele não quer que seus seguidores sejam apanhados de surpresa, por isso diz “pouco tempo ainda e já não me verão” (Jo 16,16). É o momento de sua partida. Isso não significa, contudo, ausência ou abandono dos que se dispuseram a segui-Lo. Jesus trata logo de tranquilizá-los afirmando: “outra vez pouco tempo, e me verão de novo” (Jo 16,16). Agora, Ele fala de sua ressurreição, dos encontros que terá com os discípulos após vencer a Cruz.

O tempo central aqui é o da ausência/presença de Jesus regulada pela expressão ‘pouco tempo’. Nossa relação com Jesus é guiada fé. Esta é que o torna presente entre nós. Devemos admitir, no entanto, que há momentos em que sentimos mais sua ausência que presença. É quando somos assaltados por dúvidas, sofrimentos, dores em situações como esta que estamos vivendo por causa desta pandemia que parece não ter fim.

Faz lembrar as grandes interrogações de santos/as, místicos/as que se questionavam em sua fé como Madre Tereza de Calcutá: “Há tanta contradição em minha alma: um profundo anelo de Deus, tão profundo que me faz mal; um sofrimento contínuo e com ele o sentimento de não ser querida por Deus, rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem cuidado; o céu não significa nada para mim, parece-me um lugar vazio”. Superou tudo pela fé que a fazia ver e sentir a presença de Cristo nos pobres e rejeitados a quem servia.

Quanto mais nos deixarmos conduzir pela fé, tanto mais seremos capazes de vencer esses vazios e sentir a presença de Cristo em nós e no mundo. Submetendo-nos ao seu tempo, que para nós pode parecer longo demais, não nos decepcionaremos e teremos nossa tristeza transformada em alegria (cf. Jo 16,20). Nossa noite sem estrelas passará e, então, brilhará em nós a glória de quem venceu a morte e o mal e nos envolveu, a todo tempo, com seu amor, sua misericórdia, sua ternura. No tempo dele.