A Palavra se faz vida

Desmascarar o poder

Mc 12,13-17

Por Pe. Geraldo Martins

Em quem colocamos nossa confiança e nossa esperança? Esta pergunta talvez pudesse ser o pano de fundo para a reflexão deste texto de Marcos em que os adversários de Jesus usam de esperteza para apanhá-lo em contradição e, assim, terem motivo para condená-lo. Falsos, fazem afirmações verdadeiras sobre Jesus ao dizerem que Ele é verdadeiro, não julga pelas aparências e ensina o caminho de Deus. Estas são as qualidades de um Mestre que eles rejeitam e tentam desmascarar com a pergunta sobre a liceidade de pagar imposto a César.

Jesus é quem os desmascara. Com sua resposta – “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12,17) – condena a idolatria dos que prestavam culto a César como se este fosse um deus. Ao mesmo tempo, denuncia o imperador que dominava sobre o povo que pertence a Deus. A imagem do imperador na moeda dava-lhe direito tão somente ao tributo, não o poder de reivindicar do povo a adoração que é devida somente a Deus. Nossa confiança e esperança devem estar sempre em Deus.

Com sua resposta, Jesus não indica a alienação da realidade política como caminho para seus discípulos e discípulas. Ao contrário, alerta para que não se deixem manipular nem oprimir pelos que detêm o poder. Ensina, assim, que a vivência de nossa fé deve ter uma incidência na realidade política de forma a transformá-la a fim de que aponte para o Reino de Deus.

Conservando a autonomia que lhes é própria, fé e política devem trilhar o caminho do diálogo entre si na busca do ideal que as move, qual seja a construção do bem comum, o respeito à dignidade humana, a luta pela justiça e pela paz.

Ensina o Concílio Vaticano II: “É certo que as coisas terrenas e as que, na condição humana, transcendem este mundo, se encontram intimamente ligadas; a própria Igreja usa das coisas temporais, na medida em que a sua missão o exige. Mas ela não coloca a sua esperança nos privilégios que lhe oferece a autoridade civil; mais ainda, ela renunciará ao exercício de alguns direitos legitimamente adquiridos, quando verificar que o seu uso põe em causa a sinceridade do seu testemunho ou que novas condições de vida exigem outras disposições” (GS, 76).