A Palavra se faz vida

A misericórdia que escandaliza

Mt 9,9-13

Por Pe. Geraldo Martins

O chamado que Jesus faz a Mateus é surpreendente e revelador. Quem imaginaria que Jesus convocaria para fazer parte de seu grupo alguém reconhecidamente pecador?! “Deus surpreende sempre”, gosta de dizer o Papa Francisco. O gesto de Cristo revela o modo de Deus se relacionar com os pecadores: aproximando-se, amando, confiando. Sua misericórdia leva à conversão.

Um detalhe interessante do evangelho é que Jesus diz a Mateus: “siga-me”. No entanto, para onde ele vai? Para a casa de Mateus! Quem veio se juntar a eles? Os amigos de Mateus que, como ele, são igualmente “cobradores de impostos e pecadores” (Mt 9,10). Onde se sentam? À mesa, todos ao lado de Jesus. Escândalo! Observam os fariseus. Afinal, a mesa é sinal da familiaridade, da comunhão...

A grande lição dada por Jesus desmorona os fariseus e a todos que nos colocamos como juízes de nossos irmãos e irmãs: “quero misericórdia e não sacrifício. Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13). Os moralistas de plantão, ainda hoje, devem corar diante desta atitude de Jesus. Ah aqueles que vivem vigiando e condenando os "pecadores" baseados mais na doutrina que no evangelho, mais na lei que no amor!...

Neste texto de Mateus “está algo essencial que muitos não entendem, mesmo quando parecem muito avançados nas coisas da religião: Deus não é lei, mas amor; não é punição, mas perdão; não é castigo, mas remédio. Quem entendeu isso, entendeu tudo” (Liturgia Diária O Pão Nosso de Cada Dia).

Observemos que o amor e o perdão precedem a conversão ao mesmo tempo em que são sua causa e motivação. Talvez, por essa razão, não saibamos imitar Jesus uma vez que, o mais comum, é invertermos sua prática, ou seja, esperamos que o pecador se converta para, então e só sob essa condição, amá-lo e sentarmo-nos à mesa com ele ou deixar que ele se sente à mesa conosco.

Viveremos autenticamente este evangelho no dia em que compreendermos a misericórdia de Deus. Para tanto, precisamos saber que posição ocupamos ‘na casa de Mateus’: sentamo-nos à mesa ao lado de Jesus, identificados com os publicanos e pecadores, ou ficamos à distancia como os fariseus que observam e julgam?