A Palavra se faz vida

O maior mandamento 

Mt 22,34-40

Por Pe. Geraldo Martins

Indagado sobre qual é o maior mandamento da Lei, Jesus recorre ao Deuteronômio para responder o que todos sabiam: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento (Mt 22,37; Dt 6,5). Todo judeu, minimamente fiel, sabia isso de cor. É como perguntar a um católico que tenha feito a catequese quais são os dez mandamentos da lei de Deus. Ele é capaz de dizê-los de memória.

A novidade na resposta de Jesus está no complemento que faz, dizendo que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Nesse momento, Jesus ensina que o caminho para amar a Deus é amar o próximo. São João vai dizê-lo de forma esplêndida ao afirmar que é mentiroso que diz que ama a Deus, mas odeia o irmão, pois “quem não ama seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,21). Assim, amar a Deus e ao próximo não é uma prática opcional, mas um mandamento, uma condição para participar do Reino de Deus.

O amor é essencial à vida humana. Ele é quem dá sentido ao existir humano e de todas as criaturas. Contudo, não podemos compreendê-lo apenas como sentimento. Em hebraico, o verbo amar traz o sentido de ‘fazer o bem’. Santo Inácio de Loyola lembra, neste contexto, que “o amor deve ser colocado mais nas obras do que nas palavras” (cf. AL, 94). Por isso é possível amar até mesmo os inimigos, aqueles que nos ofendem como ensina Jesus no Sermão da Montanha (cf Mt 5,44)

O amor, na sua dimensão transcendental, só é plenamente compreendido quando vivido também em sua dimensão horizontal. O amor a Deus, portanto, se traduz no serviço ao próximo quando este é entendido como aquele de quem me aproximo a partir de sua necessidade. Sem o amor a vida é dura demais. O amor é que faz superar preconceitos, divisões, rixas, desentendimentos. O amor, verdadeiramente, liberta e santifica.

Tenhamos sempre em conta o que disse São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor”.