A Palavra se faz vida

O menor é o maior

Lc 9,46-50

Por Pe. Geraldo Martins

Uma das tentações mais comuns em grupos humanos é a disputa por poder e a resistência a quem não faz parte do grupo. Nem mesmo grupos religiosos estão isentos disso. Atesta-o esse texto de Lucas que nos apresenta os apóstolos, grupo selecionado pelo próprio Jesus, discutindo entre si qual deles seria o maior. E o fazem logo após Jesus ter anunciado sua paixão e morte (cf Lc 9,44). Colocam-se, assim, numa direção oposta à de Jesus. Enquanto este trilha o caminho da humildade, do esvaziamento, da pobreza, os apóstolos alimentam o desejo de um caminho de poder e de glória.

A instrução de Jesus aos apóstolos e a nós aponta a humildade e a pequenez como o verdadeiro caminho para quem quer alcançar o Reino. Coloca-se nesse caminho quem reconhece e acolhe o Cristo nos pobres e excluídos, personificados na criança (cf. Lc 9,48). Fazer-se o menor! Este desafio nos é colocado cotidianamente numa sociedade que estimula a busca da fama e do poder, que despreza e descarta os mais vulneráveis e os que vivem na invisibilidade.

Jesus mostra também que a prática da caridade e do bem não é exclusividade de seus apóstolos. A João que lhe comunica terem proibido um homem de expulsar demônios por não pertencerem ao grupo, Jesus responde: “não o proíbam, pois quem não está contra vocês, está a seu favor” (Lc 9,50). Deus não é monopólio de ninguém, nem de grupo algum. Devemos, portanto, vencer a intolerância e a discriminação que nos impedem de reconhecer e acolher o bem feito pelo outro que não faz parte de nosso grupo.

Abramo-nos à graça de Deus e deixemo-nos guiar por sua luz. Só assim viveremos o ideal da humildade e da simplicidade que nos identifica verdadeiramente como discípulos e discípulas de Jesus.