A Palavra se faz vida

Jesus, Senhor do sábado

Mc 2,23-28

Por Pe. Geraldo Martins

O dia de Sábado era sagrado para o judeu, porque era o dia que o Senhor reservou para o descanso. Era o dia do Senhor. Para preservá-lo, a Lei prescrevia uma série de proibições, inclusive a colheita do trigo. A rigidez, no entanto, na aplicação da lei, levava a exageros, de tal forma que a Lei se tornava peso e, ao invés de libertar, oprimia. Jesus veio não para acabar com a Lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento (cf. Mt 5,17), ou seja, ajudar a interpretá-la corretamente a fim de que gerasse vida.

No texto de hoje, os discípulos arrancam as espigas em dia de sábado. Observemos que, diferentemente de Mateus (12,1) e de Lucas (6,1), Marcos não diz que os discípulos comiam as espigas, apenas as arrancavam (Mc 2,23). Na Bíblia de Jerusalém, a tradução diz assim: “começaram a abrir caminho arrancando as espigas” (Mc 2,23). Os fariseus, zelosos pelo cumprimento da lei, ficam indignados com seu gesto e reclamam com Jesus.

Jesus recorre a 1Sm 21,2-7 para mostrar que até Davi transgrediu a lei para matar a própria fome e de seus discípulos comendo pão consagrado, quando apenas as sacerdotes isso era permitido. E jesus arremata seu ensinamento afirmando: “o sábado foi feito para o homem” (Mc 2,27) e “o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Mc 2,28). Como temos dificuldade, em muitas ocasiões, em lidar com as normas e as prescrições. Corremos sempre o risco dos extremos: ignorá-las por completo ou aplicá-las com toda rigidez, sem consideramos as circunstâncias e os momentos. 

Fiquemos atentos, pois, “certo modo de conceber as coisas – e às vezes de ensiná-las – conseguiu fazer a religião apresentar-se como um complexo de verdades para crer e de preceitos para observar; um conceito não muito diferente daquele que tinham os escribas e fariseus com relação à sua própria religião” (Missal Cotidiano). Com isso, inibimos a liberdade humana e impedimos as pessoas de sentirem o amor e a misericórdia de Deus.

Cuidemos para não sermos “controladores da graça”, mas seus “facilitadores”; para não tornarmos a Igreja uma “alfândega”, mas “a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa” (Evangelii Gaudium, 47).

Senhor, livra-nos da rigidez que nos impede de sentir e viver vosso amor e vossa misericórdia. Dá-nos compreender que vosso Filho é “senhor também do sábado”. Amém!