A Palavra se faz vida

Servir e não ser servido

Mt 20,17-28

Por Pe. Geraldo Martins

A caminho de Jerusalém, Jesus anuncia aos apóstolos sua paixão, morte e ressurreição. É a terceira vez que faz isso. Não quer deixá-los na dúvida quanto ao Messias que é. É interessante olharmos a reação dos apóstolos diante do anúncio da paixão de Jesus.

Da primeira vez, Pedro reage dizendo que isso não vai acontecer e Jesus o repreende, chamando-o de Satanás, pedra de tropeço (cf. Mt 16,21-23). O segundo anúncio se dá após a transfiguração e os discípulos ficam muito tristes (cf. Mt 17,22-23). Desta vez, a terceira, a reação vem dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, através de sua mãe, manifestam o desejo de sentar-se à direita e à esquerda de Jesus. Isso causa divisão entre os apóstolos que são repreendidos por Jesus.

Em sua resposta aos dois irmãos, Jesus confirma que sua missão é dar a vida para salvar os pecadores e não garantir privilégio às pessoas, mesmo que elas o sigam no caminho da cruz, ou seja, bebam o mesmo cálice que Ele vai beber (cf. Mt 20,23). Aos apóstolos, indignados com os dois irmãos, Jesus mostra que, entre seus seguidores, o que deve reinar não é a disputa por poder e grandeza, mas a humildade que leva a servir ao outro como irmão. Essa é a grande lição da Cruz: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28). Servir é dar a vida em favor do outro. 

Como reagimos diante da Cruz de Cristo? Há os que a ignoram e passam a vida buscando a fama, o prestígio, o poder. Para estes, o outro é um adversário, um inimigo a ser dominado e abatido – “os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam” (Mt 20,25) - não um irmão a quem se deve amar e servir. Lembram Pedro que não queria a Cruz (Mt 16,22). Já os que assumem a cruz como instrumento de salvação põem-se em atitude de humildade, de aniquilamento, de esvaziamento, oferecendo a própria vida em favor do outro, fazendo-se servo de todos (Mt 20,27).

Humildade e serviço, escondimento e rebaixamento. Esse é o caminho da cruz que liberta e salva. É o caminho do amor que “está sempre «em perda», pois amar significa pôr de lado o egoísmo, a autorreferencialidade, para servir os outros” (Papa Francisco, 21.10.2018). Por esse caminho passou Jesus que nos convida a segui-lo. Que resposta lhe temos dado? O que nos diz a Cruz de Jesus? Da resposta a essas perguntas dependerá nossa participação no Reino.

Ó Cristo, ajuda-nos a seguir-te no caminho da Cruz e faz-nos servidores de nossos irmãos e irmãs, vencendo toda tentação de poder e privilégio. Amém!