2º Domingo da Páscoa – ANO C

“Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29)

At 5,12-16; Sl 117,2-4.22-24.25-27ª; Jo 1,9-11a.12-13.17-19;Jo 20,19-31

Por Pe. Geraldo Martins

O túmulo vazio e as aparições de Jesus, por si sós, são insuficientes para provar a Ressurreição de Jesus. Esta é, antes de tudo, objeto de fé. A liturgia pascal convida-nos, portanto, a fazer nossa experiência com Jesus Ressuscitado e, assim, anunciar a boa notícia de que Ele está vivo entre nós.

O evangelho de João proclamado neste 2º Domingo da Páscoa, chamado de Domingo da Divina Misericórdia, pode ser meditado a partir de três pontos que nos ajudam a compreender o mistério da Ressurreição.

Em primeiro lugar, o evangelista quer afirmar que o Crucificado é o Ressuscitado. Ao mostrar aos discípulos as mãos e o lado (Jo 20,20) perfurados pelos cravos e pela lança no ato de sua crucifixão, Jesus não quer deixar dúvida de que Ele é o mesmo que fora crucificado. Não é um fantasma a meter medo nas pessoas. Uma vez ressuscitado, Ele vence toda barreira, entra na sala que está com as portas fechadas. Ele não aparece de mãos vazias, mas traz duas novidades essenciais para o ser humano: a paz e a misericórdia, que vem do Espírito Santo.

Em segundo lugar, São João destaca a importância da comunidade como lugar da experiência do Crucificado-Ressuscitado. O medo cede lugar à alegria com a presença do Ressuscitado – “os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20). Dessa experiência nasce o compromisso com a missão e o perdão – “Como o Pai me enviou, também eu envio vocês... a quem perdoarem os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,21.23).

É à comunidade-Igreja que Jesus deseja a paz. Esta é entendida como a plenitude dos bens necessários para viver com dignidade. A Ressurreição de Cristo significa, portanto, a garantia de vida plena para a humanidade. Este é o compromisso da Igreja na sociedade e no mundo: promover a vida nova que vem do Ressuscitado. Tocar as chagas do Crucificado-Ressuscitado prolongadas na carne chagada dos empobrecidos, excluídos e descartados pelo sistema. Isso se torna ainda mais exigente nesses tempos de antivida marcados pelas guerras, pela violência de todo tipo, pela discriminação e preconceito, pelo autoritarismo presente em tantos governos, pelas constantes ameaças ao estado democrático de direito, por políticas que retiram direitos de populações vulneráveis conquistados com tanta luta e suor.

Finalmente, o terceiro destaque do evangelho fica por conta da atitude de Tomé. Ausente na primeira reunião da comunidade, não acredita no testemunho que esta dá do Ressuscitado. É claro que ele merece censura por isso. Deu um mau exemplo para muitos que não consideram a comunidade como a primeira portadora da experiência do Crucificado-Ressuscitado e até imaginam poder viver a fé cristã de maneira isolada, sem nenhum compromisso com a comunidade.

Contudo, ao exigir encontrar-se como Senhor, Tomé ensina que a fé, embora seja experiência comunitária, é fruto também da experiência pessoal. Ele não quer crer com a fé dos outros. Quer fazer a própria experiência. Jesus não parece se zangar com isso e trata Tomé com delicadeza e ternura, mas exige dele a fé – “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27).

Tomé se rende ao encontro com o Crucificado-Ressuscitado – “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). É a resposta que Jesus espera de todos que o encontram, mesmo sem o terem visto – “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29). Encontramo-nos todos nessa condição. Tomé compreende, assim, a importância de estar na comunidade a quem o Crucificado-Ressuscitado se revela. Aqui, torna-se bom exemplo a ser imitado.

A Ressurreição de Jesus, reafirme-se, é uma questão de fé. Sem esta, viveremos na escuridão de quem não encontrou a razão da própria vida. Uma vez feita a experiência da fé pascal, surge a missão de comunicá-la aos irmãos e irmãs tal como os apóstolos, conforme ouvimos na leitura dos Atos dos Apóstolos proclamada na liturgia de hoje. Fazer com que a comunidade sinta a força do Ressuscitado que lhe traz vida, renova sua esperança e a cura dos males que afligem os filhos e filhas de Deus (cf. At 5,16).

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