A Palavra se faz vida

A salvação dos ricos

Mt 19,23-30

Por Pe. Geraldo Martins

Na sequência do encontro com o jovem rico que se recusa a segui-lo, Jesus entra num tema, para muitos de nós, espinhoso. Trata-se da relação do ser humano com as riquezas. Suas palavras são duras e exigem que sejam interpretadas sem subterfúgios. Ele afirma com clareza e coragem: “dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus” (Mt 19,23). Não são poucos os que se assustam com esta afirmação e, na sua interpretação, tentam suavizar a fala de Jesus.

De fato, cabe a pergunta: quem é rico para Jesus? “Rico, no pensar de Jesus, é quem transforma os bens deste mundo em autênticos ídolos e fecha seu coração para Deus e para os irmãos; quem ama suas propriedades sobre todas as coisas, e, para protegê-las e fazê-las multiplicar, não hesita em lançar mão de qualquer artifício, mesmo injusto, desonesto, ilegal” (Pe. Jaldemir Vitório).

Rico, portanto, é quem guia sua vida pela avareza, isto é, o amor ao dinheiro. Escrevendo a Timóteo, São Paulo ensina: “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregado a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos (1Tm 6,10).

O caminho da salvação passa, portanto, pela capacidade da renúncia, do despojamento, da partilha, da solidariedade. Há muitos ricos que fazem caridade e se tornam exemplo na sociedade. No entanto, para serem verdadeiras, as obras de caridade feitas os ricos não podem ser “uma forma de subtraírem-se à instauração da justiça e tranquilizarem a consciência, mantendo as suas posições e defraudando os pobres nos seus direitos” (Bento XVI, Deus Caritas est, 26). 

Se o apego às riquezas e aos bens fecha as portas a quem sonha participar da glória do Reino, a renúncia e o despojamento por causa de Jesus são a garantia dessa participação. Foi o que Jesus disse a Pedro: “quem deixar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna” (Mt 19,29). A escolha é de cada um.

Ó Cristo, dá-nos um coração desapegado, que ame a pobreza evangélica e seja capaz de deixar tudo para te seguir. Amém!