A Palavra se faz vida

Renovar o coração

Lc 5,33-39

Por Pe. Geraldo Martins

Havia três práticas de piedade muito caras aos judeus que continuam presentes na vida dos cristãos: a oração, a esmola e o jejum. Um dos motivos dos constantes conflitos dos doutores da lei e dos fariseus com Jesus dizia respeito à Lei, inclusive a que determinava o jejum. Daí o questionamento por que os discípulos de Jesus não jejuavam, desobedecendo a prescrição legal (Lc 5,33).

Muito apegados à letra da lei, esses dois grupos não compreendiam o novo trazido por Jesus que veio não para abolir a lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento (cf. Mt 5,17). Em sua resposta, Jesus revela o mais importante: reconhecê-lo e aceitá-lo como o noivo que dispensa os convidados do jejum enquanto está com eles. Depois, sim, jejuarão de uma forma nova, centrada na interioridade mais que na exterioridade. Um jejum que se traduza na partilha e na solidariedade, fruto da compaixão com os empobrecidos. 

Essa passagem de São Lucas faz-me pensar em tantos irmãos e irmãs que, como os doutores da lei e os fariseus, parecem andar com lupa a caçar práticas que ferem a ortodoxia e a doutrina, colocando-se como seus guardiães, julgando-se mais católicos que os demais. Beirando ao fundamentalismo e à intolerância, acabam por esquecer o Evangelho, evocando um Deus que mais parece um juiz implacável que um pai misericordioso e compassivo. Estão sempre vigiando quem pode e quem não pode comungar; quem pode e quem não pode ser padrinho/madrinha de batismo; quem vai e quem não vai à missa; quem participa de manifestações em defesa dos direitos humanos etc.

Urge que transformemos nossos corações a fim de que se tornem odres novos para acolher o vinho novo que Jesus nos oferece gratuitamente. Enquanto ficarmos apegados a tradicionalismos, privamo-nos da graça libertadora que Deus nos oferece em seu Filho Jesus. Deixemo-nos conduzir pela novidade que é o próprio Cristo e, então, todas nossas práticas de piedade farão sentido e nos renovarão.

Pai de amor, renova nosso coração a fim de recebermos o vinho novo do amor, do perdão, da misericórdia, da partilha e da compaixão que teu Filho nos trouxe. Perdoa nossas resistências ao novo e nosso apego a tradições que nos escondem teu verdadeiro rosto. Amém.

Comentários

  1. "Urge que transformemos nossos corações!" 💗

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  2. Quero ser vinho novo da alegria , da esperança e do anúncio do Reino de Deus,no qual, Jesus Cristo convida para a festa das Bodas da alegria, do perdão e aceitação.Amem!

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  3. O homem completo é corpo e alma, por isso, as nossas ações precisam estar de acordo com o nosso ser total. Diante de Deus todos os nossos atos terão o valor proporcional ao que o nosso coração lhes confere. Fazer apenas por fazer, fisicamente, não nos edifica nem nos ajuda na caminhada para Deus.

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