A Palavra se faz vida

Condições para o discipulado

Lc 9,57-62

Por Pe. Geraldo Martins

O seguimento de Jesus é tema recorrente nos evangelhos e, ao longo de sua missão, Jesus revela as condições para alguém se tornar seu discípulo como ocorre aqui, neste trecho de São Lucas, no início de sua longa viagem a Jerusalém. Trata-se de três pretendentes a acompanhar o mestre. Dois deles se oferecem espontaneamente, certamente, fascinados pelo que ouvem e veem a respeito de Jesus. O outro é chamado diretamente por Jesus.

Ao primeiro que se apresenta decidido e entusiasmado – “eu te seguirei onde quer que fores” (Lc 9,57), Jesus responde com um alerta que tem implicações na vida de quem quer segui-lo: “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58). Quem se dispõe a seguir Jesus deve se entregar à providência divina e se preparar para uma vida de desconforto e incertezas. Isso significa vida simples, na pobreza, no total despojamento e desapego. Não é uma decisão fácil. Aqui, “Jesus nos indicou, a nós seus discípulos, que a nossa missão no mundo não pode ser estática, mas é itinerante. O cristão é um itinerante”, ensina o papa Francisco (30.6.2019)

O segundo é o próprio Jesus quem chama. Sua resposta é positiva, mas condicionada. Não está disposto a segui-lo imediatamente. Adia o seguimento para após cumprir compromissos familiares – “deixa-me primeiro ir enterrar meu pai” (Lc 9,59). A resposta de Jesus aponta que fazer-se seu discípulo está acima dos laços consanguíneos e exige decidida opção. A urgência de comunicar o Evangelho, diz o Papa, “rompe a cadeia da morte e inaugura a vida eterna, não admite atrasos, mas requer prontidão e disponibilidade”.

O terceiro se apresenta para o seguimento, mas também coloca condições: despedir-se de seus familiares. Ao que Jesus responde que a decisão de segui-lo implica ruptura até mesmo com laços familiares e, uma vez no caminho com ele, não cabe ficar olhando para trás, com dúvidas a respeito da própria decisão. Lembra Francisco que “o seguimento de Jesus exclui arrependimentos e que se olhe para trás, mas exige a virtude da decisão”.

São Lucas não diz o que aconteceu com esses três pretendentes a discípulos de Jesus. Aceitaram ou não as exigências de Jesus? Tornaram-se seus discípulos ou não? Podemos, assim, nos perguntar com qual deles mais nos identificamos e se, a seu exemplo, também nós condicionamos nossa resposta ao chamado que Jesus nos faz para segui-lo. Cuidemos para não invertermos os papeis: no chamado para ser discípulo de Jesus, Ele é quem coloca as condições e exigências e não nós.

Senhor, dá-nos a graça de nos colocarmos decididamente no caminho de vosso divino Filho e faz-nos seus discípulos e discípulas por meio da “itinerância, da prontidão e da decisão” (Papa Francisco). Enche-nos de coragem para as necessárias rupturas que exigem nossa vocação e não permitas que, colocando a mão no arado, fiquemos olhando para trás. Torna-nos aptos para o teu Reino. Amém!

Comentários

  1. "Senhor, ...torna-nos aptos para o teu Reino." Amém!

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  2. Jesus, " não tem onde reclinar sua cabeça", mesmo sendo o Senhor da história e do mundo. E no entanto, vai prometer muito mais bens e a vida eterna àqueles que deixaram tudo para segui-lo. Só um Deus que tudo faz para nós pode ser de verdade Deus-Amor.
    Nossa preocupação podem ser legítimas,mas não podem estar acima do Reino de Deus, nem nos tirar a disponibilidade para o seguimento de Jesus.

    Na leitura de hoje, Jó reconhece a sabedoria de Deus e reconhece que precisa pedir misericórdia ao seu juiz.

    Senhor, dai-nos a graça de decidir caminhar no seu caminho, nos fazendo seus discípulos e discípulas .
    Que a nossa oração chega até vossa presença.
    Nos ajuda a ter forças, fé e coragem de cantar o amor proclamar a verdade, na hora da maior dor, na dor da morte, nos ajuda a testemunhar a verdade e as tuas obras, clamar nas nossas aflições que a nossa voz chega a te vós . Nos ajude a caminhar sem olhar pra trás, amém

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  3. 'Senhor, dá-nos a graça de nos colocarmos decididamente no caminho de vosso divino Filho e faz-nos seus discípulos e discípulas por meio da “itinerância, da prontidão e da decisão”.'

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  4. Pai torna-me apto para o serviço do teu Reino, dando-me as virtudes necessárias para não me desviar do caminho traçado por ti, mesmo devendo pagar um alto preço por isso

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  5. Quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno de mim! Disse Jesus.

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