A Palavra se faz vida

O desafio de perdoar infinitamente

Mt 18,21-35

Por Pe. Geraldo Martins

Pedro apresenta uma dúvida a Jesus que lhe responde duas questões. A primeira diz respeito ao número de vezes que se deve perdoar uma mesma pessoa. Pedro julgava que perdoar sete vezes fosse mais que suficiente. Para muitos de nós, Pedro estaria sendo generoso até demais, pois sete vezes seria um número exagerado. 

A segunda questão, que não foi levantada por Pedro, aponta para o alcance do perdão, o seu tamanho, se assim pudéssemos dizer. A pergunta talvez pudesse ser assim: há algum pecado que não se possa perdoar?

Objetivamente, Jesus diz que o perdão deve ser dado sempre – “não até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,22) -, além de ser radical, ou seja, deve-se perdoar tudo. E, como se isso não bastasse, Ele acrescenta que essa é a condição para alguém ser perdoado (cf. Mt 18,35) e, assim, entrar no Reino. Aliás, é isso que rezamos todos os dias no Pai Nosso. . “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12). "Estas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender para nós o perdão de Deus, se, por nossa vez, não concedemos o perdão ao nosso próximo" (Papa Francisco, 13.9.2020).

O parâmetro para prática tão radical é o próprio Deus, misericordioso por definição. Ele perdoa tudo e sempre! “Deus nunca se cansa de perdoar”, repete sempre o papa Francisco (EG, n. 3).

Acostumados a quantificar tudo, inclusive nossa prática religiosa (lembro-me, por exemplo, do “Tesouro Espiritual” que deveria ser preenchido pelos membros do Apostolado da Oração dizendo de quantas missas participaram, quantas comunhões fizeram, quantos atos de caridade praticaram etc., e também da Legião de Maria cujos integrantes deveriam dizer quantas visitas foram feitas, quantos terços rezados, a quantos velórios se foi etc.), tendemos sempre, para algumas questões, ao mínimo. Perdoar, sem dúvida, estaria entre estas, bem como ajudar alguém em sua necessidade. Somos inclinados a colocar limites em nossa prática de perdão e de caridade. E, pior, não raro nos ufanamos do limite colocado, julgando que fomos demasiado generosos.

Tudo se modifica se agimos por compaixão. Esta é a pedra de toque que deve mover nossa relação com os irmãos e irmãs, tal como Deus faz conosco. “Não devia você também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive compaixão de você?” (Mt 18,33). Compaixão que não significa dó, pena ou piedade, mas a capacidade de nos colocar no lugar do outro e assumir, como nossas, suas dores e necessidades. Quanto mais formos capazes de fazer isso, tanto mais nos habilitamos ao perdão, sem quantificá-lo nem tampouco condicioná-lo.

A parábola evidencia, ainda, o contraste entre a dívida que temos a pagar e da qual somos perdoados e o valor que temos a receber e não perdoamos. O pecado é sempre uma dívida para com Deus e com o/a irmão/ã. Só o perdão é capaz de pagá-la totalmente. Para tanto é necessário o amor, que nasce da compaixão. Se nos sentimos tão bem quando somos perdoados, sentimo-nos muito melhores quando perdoamos. Daí a necessidade de fazê-lo sempre. Qual a nossa disposição para isso?

Senhor, dá-nos tua generosidade e compaixão a fim de perdoar sempre aos nossos irmãos e irmãs para merecermos o teu perdão que nos cura e salva. Amém!

Comentários

  1. Senhor ajuda nos a perdoar aqueles que nos ofende, para sim merecermos seu perdão..Amém!

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  2. Se eu não perdoar o meu irmão,o senhor não me dá o seu perdão.Perdoando é que serei perdoada.Vivo em Cristo a vida de cristão, sou mensagem de sua reconciliação.

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  3. "Senhor, dá-nos tua generosidade e compaixão a fim de perdoar sempre aos nossos irmãos e irmãs para merecermos o teu perdão que nos cura e salva. Amém!"

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  4. Na leitura de hoje tirada da profecia de Daniel. Perdão e Dom profundo, que gera vida e traz verdadeira Liberdade Somos convidados a perdoar de alma contrita e espírito de humildade.

    Perdoar é desejar que o outro alcance de novo a vida, que foi tirada pelo egoísmo, pelo ódio,pela maldade e pecado. Deus conta sempre com amor maior, aquele que perdoa, mas nós, nem sempre. Aprender do jeito de Jesus é perdoar tanto quanto for preciso. O perdão é amor, e amor não se mede, nem se conta, é amor sem limite.
    "Não te digo até sete vezes, mas setenta vezes sete ".

    Senhor, nos ajude a perdoar como você nos perdoa, sozinhos não conseguimos, para merecermos o teu perdão. Mostra-nos vossos caminhos, nos faz conhecer a vossa verdade, nos ajude a recordar a vossa ternura, vossa compaixão que são eternas . Amém

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