A Palavra se faz vida

A melhor parte

Lc 10,38-42

Por Pe. Geraldo Martins

Numa sociedade que, permanentemente, nos cobra resultados e eficiência, é fácil nos identificarmos com Ma
rta, personagem do evangelho de Lucas proclamado na liturgia de hoje, que com Maria sua irmã. O zelo daquela pelo cuidado com a casa leva-a ao excesso de atividades que, muitas vezes, tem o seu preço: cansaço, estresse, irritação. Se a pessoa for do tipo perfeccionista, o sofrimento é ainda maior, comprometendo, inclusive, a convivência com os outros.

O frenesi do dia a dia é a grande desculpa da maioria das pessoas para não se identificarem com Maria, irmã de Marta, que escolhe parar tudo para ouvir o Mestre. Ela “escolheu a melhor parte” (Lc 10,42), diz Jesus. A agitação cotidiana que nos obriga a dar conta de tantas tarefas rouba-nos o tempo e nos impede de perceber que “apenas uma coisa é necessária” (Lc 10,42): contemplar o mistério divino que se nos revela em Jesus. 

Há muitas pessoas que se orgulham de sua agenda lotada de compromissos. Ociosidade é palavra fora de seu dicionário. Não sabem “perder tempo” com a família, com os filhos, com os amigos, com Deus... Isso ocorre também na Igreja, com os ministros ordenados, com os agentes de pastoral. São tantas atividades que não sobra tempo para contemplar o mistério, para rezar a vida, para entrar na intimidade do Senhor. Durante a pandemia isso se intensificou para muitos com as reuniões virtuais e as lives, tornando a vida mais agitada que antes.

O isolamento social imposto no tempo da pandemia deveria ter nos ajudado a perceber o quanto a meditação e a contemplação fazem falta em nossa vida. O sistema capitalista nos impõe um ritmo desumano e nos transforma em máquinas sem que a gente perceba. Levados pela ânsia de produzir e consumir, deixamos de contemplar o belo que se revela no profundo de Deus e das coisas por Ele criadas.

Lucas, nesta passagem, não tem a intenção de contrapor ação e contemplação, mas mostrar que a ação só produz efeito quando fruto da contemplação. Assim, nenhuma ação leva a Deus se não se traduz em ação. Urge, portanto, saber colocar-se aos pés do Senhor e ouvi-lo serenamente a fim de adquirir força e sabedoria para viver a vida e enfrentar as situações adversas que a própria vida nos reserva. Perguntemo-nos: diante do Senhor, que atitude temos tomado: de Marta ou de Maria? As atitudes de ambas não se opõem. Elas se complementam desde que feitas no seu devido tempo.

Senhor, ensina-nos o caminho da ação na contemplação e da contemplação na ação a fim de que, repletos de vosso amor e ternura, nos dediquemos a servir nossos irmãos e irmãs. Perdoa-nos quando nos deixamos levar pelo excesso de atividades e preocupações e não dedicamos tempo a ouvir, meditar e contemplar vossa Palavra. Amém.

Comentários

  1. Senhor, ensina - nós o caminho da contemplação que leva a ação e da ação que leva- nós percebemos as necessidades das pessoas que necessitam de nossa ajuda.

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  2. Leitura da profecia de Jonas.
    Deus interpela a cidade de Nínive e nela todos somos interpelados para nossa conversão, que se faz sempre necessária para nossa salvação.

    Todo discípulo escuta atentamente o que diz o Mestre; e Maria tem essa atitude, colocando-se aos pés de Jesus e ouvindo-o falar.
    A atitude de Maria é a de discípula que se coloca próxima ao Mestre e procura ouvir atentamente sua palavra e dele aprender. Sentar-se aos seus pés, ouvir suas palavras é viver em conformidade com ela, é atitude de quem é verdadeiro discípulo.

    Senhor, ensina-nos o verdadeiro caminho da ação e contemplação. Escuta a nossa voz, que o vosso ouvidos estejam bem atentos ao nosso clamor. Amém

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