A Palavra se faz vida

Não basta estar na multidão

Lc 14,25-33

Por Pe. Geraldo Martins

Neste texto de Lucas, Jesus deixa claro que não basta acompanhá-lo como se estivessem numa passeata. É necessária a decisão de segui-lo. Para tanto, Ele apresenta três condições: desapegar-se da família, pegar a cruz e caminhar atrás dele. Isso exigirá discernimento.

Desapegar-se da família é assumir Jesus como razão primeira e insubstituível da própria existência. É tê-lo como a única referência dos valores que hão de dar sentido à nossa vida. É reconhecê-lo como valor absoluto de tal forma que sua palavra, seu projeto e sua mensagem nunca sejam negligenciados.

Carregar a cruz se traduz no compromisso com a vida, com a justiça, com a dignidade humana, com os direitos humanos. É dizer não ao indiferentismo que nos cega diante da violação dos direitos humanos e injustiças que agridem a dignidade humana. É rechaçar a omissão que nos põe numa zona de conforto e nos torna cúmplices dos autoritarismos políticos, dos mecanismos que produzem pobreza, miséria e exclusão. É abrir-se ao mundo plural e diverso e dizer um basta à intolerância, ao preconceito, à discriminação. É ter coragem de posicionar-se contra pronunciamentos que tecem loas a ditadores e torturadores, flertando com o autoritarismo e o revanchismo; é ter a coragem de colocar-se contra posições que estimulam a violência e o desrespeito ao diferente.

Caminhar atrás de Jesus, terceira exigência para tornar-se seu discípulo/a, não é outra coisa senão fazer o mesmo caminho que Ele fez: assumir a causa dos pobres e excluídos, defender os fracos e descartados, ir ao encontro dos doentes e pecadores, levar vida para todos. É anunciar a alegre notícia da salvação e da libertação; é denunciar todo sistema que oprime e mata; é colocar-se nas marchas e mobilizações que gritam em defesa das liberdades democráticas, do cuidado com a Casa Comum e de uma sociedade em que prevaleçam as relações de amor, de fraternidade e de solidariedade.

Passar do ‘acompanhar’ para o ‘seguir’ Jesus é uma difícil decisão que implica discernimento. O próprio Jesus lembra isso no Evangelho ao contar as parábolas do construtor da torre que não planejou bem seus custos e do rei que, partindo para a guerra, avalia se tem condições de vencer o adversário (Lc 14,28-32). Dói constatar que muitos se tornaram cristãos sem que isso significasse uma decisão madura, consciente e livre. Não são capazes de 'renunciar a tudo que têm" para seguir Jesus (Lc 14,33). Por isso, apenas o acompanham, como a multidão do Evangelho, sem compromisso com seu projeto. Fazemos parte dessa multidão?

Senhor Jesus, quero ser teu discípulo. Dá-me a graça do desapego e do despojamento a fim de que viva com fidelidade o discipulado. Amém!

Comentários

  1. Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
    Todos os outros mandamentos se reúnem neste: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo".

    As exigências para seguir Jesus São duras. Quem poderá aguentar caminho tão difícil? Entretanto, "carregar Cruz fechar" não significa acrescentar peso as dificuldades da vida, mas aceitar um estilo de viver a luz do evangelho. As pessoas que fazem essa experiência testemunham com alegria que de fato o jugo se torna suave e o fardo, leve".
    A cruz foi o trono no qual o Cristo mostrou-se o extremo de seu amor, aí realizou em Plenitude sua missão"quem não renunciar a si mesmo não pode ser meus discípulos minhas discípulas".
    O convite de Cristo para o seu segmento exige separação, radicalidade. É Preciso olhar nossa disposição interior para segui-lo mais de perto.

    Senhor, nos ajude a sermos seus discípulos e discípulas, dai-nos a graça da libertação do apego para te servir com disponibilidade. Amém

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  2. Senhor, ensina - me a desapegar de tudo para que eu possa segui- lo com mais convicção.

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