14 de janeiro
Leituras:
1Sm 3,3b-10.19
Sl
39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10
1Cor 6,13c-15a.17-20
Jo 1,35-42
Por Pe. Geraldo Martins
O chamado de Deus tem dinâmica
própria e se dá de múltiplas formas. A narração da vocação de Samuel (1Sm
3,3-10) mostra, antes de tudo, que a iniciativa de chamar é de Deus. E Ele sabe
o momento e a forma de fazê-lo. No caso de Samuel, Deus vai ao seu encontro à
noite, enquanto ele dorme, no templo, junto à Arca da Aliança. A noite e o sono
sugerem que Deus chama no silêncio, no escondimento, de modo extremamente
discreto. Sua voz traz o tom da suavidade e da ternura. Ele chama pelo nome. Já
o escutamos?
Samuel, por sua vez, ensina-nos que
não se pode deixar Deus esperando. Acordado pela voz que o chama, ele se
levanta imediatamente e sai em disparada para respondê-la, pensando tratar-se
do sacerdote Eli. Engana-se. E por quê? Porque “ainda não conhecia o Senhor”
cuja palavra “não tinha sido manifestada a ele” (1Sm 3,7). Isso pode ocorrer
conosco também. Sem discernir a voz de quem chama, nossa resposta fica vazia.
Como Samuel, às vezes, precisamos de alguém que nos ajude a decodificar a voz
que ouvimos, mas não distinguimos. Só, então, poderemos dizer, na liberdade de
quem quer servir: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3,10).
Outra forma de Deus chamar é
mostrada pelo Evangelho ao relatar a experiência do encontro dos primeiros
discípulos com Jesus. Aqui, não há propriamente um chamado ou convocação. Deus
se servirá de João Batista para apontar o “Cordeiro de Deus” aos seus discípulos
e, assim, despertar neles o desejo do encontro com o Salvador. Com seu gesto,
João Batista diz que seu tempo passou e que, de agora em diante, deve-se seguir
a Jesus Cristo. O testemunho do Batista soa como a voz de Deus que chama e
conduz, não a Eli, mas ao Cristo, o Messias, seu enviado.
A vocação destes dois discípulos
desabrocha com o desejo de ver onde Jesus mora – “Mestre, onde moras?” (Mc
1,38). Esta pergunta já é o começo da resposta à sua vocação de discípulos,
confirmada no convite que Jesus lhes faz: “venham ver”. Eis o chamado! Eles não
apenas foram e viram, mas permaneceram com Ele (Jo 1,39). Esta é a condição
para reconhecer o Messias e sentir-se atraído por Ele: desejar conhecer sua
morada, ir, ver e permanecer. Quem faz essa experiência, não resiste à missão.
Parte ao encontro de outros para comunicar-lhes a boa nova, como fez André que
chamou seu irmão Pedro – “Encontramos o Messias”, conduzindo-o a Cristo.
No hoje de nossa história, há
tantos que estão perdidos e sem rumo, entre os quais inúmeros jovens, porque
não se colocam a escutar a voz de Deus; desinteressam-se de saber onde mora o
Mestre; não se dispõem a permanecer com Ele; prescindem de seu chamado,
imaginando encontrar o sentido da vida por si mesmo. Esquecem-se de que “a vida
de fé consiste no desejo de estar com o Senhor e, portanto, numa busca contínua
do lugar onde Ele mora” (Papa Francisco - Angelus, 14.1.18)
Deus não cessa de chamar. Basta que
prestemos atenção. Pelo chamado que Deus nos faz, somos impelidos a
glorificá-lo com nosso corpo, conforme exorta São Paulo (1Cor 6,2). Ele habita
em nós, faz de nosso interior sua morada. Isso facilita escutar sua voz que
brota de nosso interior. Quanto mais ouvirmos nosso interior, tanto mais fácil
será responder à pergunta do Cristo: “o que vocês estão procurando?” (Jo 1,38)
e tanto mais decididos seremos em permanecer com Ele. Eis o caminho da
felicidade que buscamos: escutar, discernir e responder ao chamado de Deus.
Isso é vocação!
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