Entranhas de misericórdia

Sábado da 2ª Semana da Quaresma

2 de março

 

Leituras:

Mq 7,14-15.18-20

Sl 102(103),1-2.3-4.9-10.11-12

Lc 15,1-3.11-32

(Acesse aqui)

Por Pe. Geraldo Martins

Misericórdia e perdão são as duas palavras chave dos textos da liturgia de hoje. No livro de Miqueias, o profeta dirige uma prece a Deus, o pastor de Israel, exaltando seu amor e cuidado com o povo que deixou o exílio. Suplica que ao povo seja dado, de novo, experimentar os benefícios de seu carinhoso – “que eles desfrutem a terra de Basã e Galaad, como nos velhos tempos (...) faze-nos ver novos prodígios” (Mq 7,14.15).

A súplica do profeta nasce da experiência de um Deus amoroso e misericordioso que, com entranhas de misericórdia, “apaga a iniquidade e esquece o pecado”; “não guarda rancor para sempre, mas ama a misericórdia”; “se compadece de nós e lança no fundo do mar nossos pecados” (cf. Mq 7,18-19). É uma pena que muitos prefiram a visão de um Deus juiz e castigador a esse Deus complacente e rico em misericórdia. Sofrem com uma consciência escrupulosa, oprimidos pela obsessão de pecado, aprisionados pelo medo do inferno e do diabo, quando poderiam sentir a alegria do amor infinito de um Deus cuja satisfação é amar e perdoar.

Na parábola do filho pródigo ou do Pai misericordioso, Jesus revela de forma ainda mais profunda a misericórdia de Deus. É ele que vai ao encontro de quem quer encontrá-lo após sair de casa e se perder. É interessante observar que o filho, reconhecendo seu pecado, “impõe uma pena a si mesmo: perder todos os direitos de filhos (cf. Gn 43,9)”. Porém, “o pai não leva o assunto por via legal (Dt 21,20), mas se deixa levar pelo afeto paternal, sai correndo a seu encontro. O abraço sela a reconciliação, antes que o filho pronuncie a confissão” (Bíblia do Peregrino). Só quem conhece e experimenta o amor de Deus é capaz de sentir seu abraço de perdão e reconciliação.

Aos olhos de muitos que vivem a rigidez de uma consciência escrupulosa e se deixam guiar pelo fundamentalismo, a misericórdia de Deus é um escândalo. Pensam que ela anula o dever do arrependimento e a conversão. Estão enganados. Ao perdoar, “Deus não fecha os olhos com um complacente paternalismo, mas abre novo crédito de confiança a nossas responsabilidades e dá a garantia de vencer o mal com o bem. Renova, assim, no pecador a alegria de viver”. É esta “convicção de que Deus nos perdoa, fazendo prevalecer em nós o bem sobre o mal, [que] nos impede de sermos tristes” (Missal Cotidiano).

Deus, Pai misericordioso, tem compaixão de nós e faz-nos participantes de tua alegria que nasce de teu perdão amoroso. Amém.

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